Metsul – O domingo foi o pior dia de queimadas neste mês até agora na Amazônia brasileira. Conforme dados do programa de queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apenas o dia 4 de setembro registrou 3.393 focos de calor. O número supera as marcas do dia 1º (2.076), do dia 2 (3.333) e do dia 3 (3.331). Os focos de calor estão altíssimos também na Amazônia peruana e boliviana.
Com isso, 10.057 focos de calor de calor foram captados por satélites em apenas três dias no bioma. Somente nos primeiros quatro dias de setembro, a Amazônia registrou 12.133 focos de calor ou mais de um terço da média histórica (1998-2021) do mês inteiro de 32.110 focos em tão-somente 96 horas.
Quatro dos últimos 15 dias tiveram números diários de focos de calor que superaram a marca de 3 mil, de acordo com os dados de monitoramento de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Dias com mais de 3 mil focos são por demais raros na estatística histórica.
Só no último dia 22 de agosto, o pior deste ano até agora, foram 3.458 focos de calor captados por satélites na Amazônia. Os 3.458 focos de calor representaram o maior número diário para agosto na Amazônia desde 2002, conforme a estatística do Inpe. Em 23 de agosto de 2002, os satélites captaram 3.548 focos de calor. No dia 25 de agosto de 2002, outras 3.300 queimadas foram identificadas.
Nenhum outro dia de agosto desde então tinha superado os 3 mil focos de calor, até o 22 de agosto. Nem no infame “Dia do Fogo”, em 10 de agosto de 2019, em que vários incêndios foram iniciados de forma proposital no Pará, o que acabou gerando investigação da Polícia Federal para identificar os responsáveis, concentrados na região de Novo Progresso.
No Amazonas, os quatro primeiros dias de setembro tiveram 2.094 focos de calor. A média histórica do mês inteiro (1998-2021) é de 2.768 focos. Ou seja, em apenas quatro dias o número de focos de calor já se aproxima da média histórica de setembro inteiro. No Acre, 1.760 focos nas primeiras 96 horas do mês, quando a média histórica mensal é de 3.224. Outro estado que já supera a metade da média do mês em apenas quatro dias.
No Pará, que tem média em setembro de 9.103 focos de calor, apenas os quatro primeiros dias do mês já anotaram 4.859 focos de calor, ou mais da metade da média mensal. Somente no dia 4, o estado teve 1.867 focos de calor. E em Rondônia, 1.144 focos de calor, sendo que a média histórica de setembro inteiro é de 6.974 focos de calor.
“Realizamos um sobrevoo de monitoramento de queimadas e desmatamento na região onde convergem os estados do Amazonas, Acre e Rondônia (Amacro), e flagramos o maior desmatamento da Amazônia no último ano: cerca de 8 mil hectares, equivalente a 11 mil campos de futebol queimando. Participo desses monitoramentos há mais de dez anos, e nunca tinha visto um desmatamento tão grande e também com tanta fumaça”, relata Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil.
Do total de focos de calor do ano registrados de 1º de janeiro a 31 de agosto no bioma de 46.022, houve um aumento de 16,7% em relação ao ano passado, maior número acumulado para o período desde 2019. Desse total, 43% ocorreram apenas em dez municípios da Amazônia, sendo cinco deles localizados na região da Amacro, considerada a nova fronteira de expansão da economia da destruição na Amazônia e que vem acelerando as taxas de desmatamento e queimadas.
Pior agosto de fogo na Amazônia desde 2010
Conforme dados do Inpe, agosto terminou com 33.116 focos de calor na Amazônia. A estatística desde 1998 mostra que se tratou do maior número de focos de calor em agosto desde 2010, quando os satélites captaram 45.018 focos de calor.
Agosto foi ainda o mês, considerando todos os meses do calendário, com mais registro de fogo no principal bioma do Brasil desde setembro de 2017. Naquele mês, a estatística histórica traz 36.569 focos de calor. Em agosto de 2017, o bioma registrou 21.344 focos de calor. É o quarto ano seguido com mais fogo na Amazônia em agosto do que a média.
Com os 33.116 focos registrados, agosto superou a média histórica (1998-2021) de 26.299 focos de calor no oitavo mês do ano. Os números de 2022 superam os de 2019, quando houve grande comoção mundial pelas queimadas na Amazônia. Em agosto de 2019, o bioma registrou 30.900 focos de calor. O agosto de muito fogo se deve em grande parte do que ocorreu na segunda metade do mês, quando o número de queimadas cresceu enormemente na região.
Os dez municípios com maior número de focos de calor na Amazônia em agosto foram Altamira (PA) com 11,8% do total, São Félix do Xingu (PA) com 10,2%, Novo Progresso (PA) com 8,2%, Apuí (AM) com 7,7%, Porto Velho (RO) com 6,4%, Lábrea (AM) com 6,4%, Colniza (MT) com 5,4%, Itaituba (PA) com 4,6%, Nova Aripuanã (AM) com 4,4%, Feijó (AC) com 3,6% e Manicoré (AM) com 3,4%.
Já houve anos muito piores
Os piores anos de fogo na Amazônia em agosto se deram de 2002 a 2007. Em 2002, agosto terminou com 43.484 focos. Em 2003, 34.765. Já em 2004, 43.320. Em 2005, o recorde da série histórica do mês com 63.764. Em 2006, 34.208. E, por fim, 2007 com 46.385 focos de calor em agosto. Em 2011, o menor número em agosto com 8.002 focos.
Já em setembro, os piores anos de fogo também se deram entre os anos de 2002 e 2007. Em 2002, setembro terminou 48.549 focos de calor. Em 2003, 47.789. Já em 2004, o mês acabou com 71.522 focos de calor. Em 2005, 68.560. Em 2006, setembro teve 51.028 focos de calor. E em 2007, o pior setembro já visto, com 73.141 focos de calor.
Temporada de fogo
Os meses de agosto a outubro marcam o pico das queimadas a cada ano no bioma amazônico. Diferentemente de outros biomas, quase todos os episódios de fogo na região amazônica são iniciados propositalmente pela natureza tropical e úmida da floresta, diferentemente do Cerrado em que o fogo pode se iniciar sem intervenção humana.
Florestas, como da Europa e dos Estados Unidos, não são de natureza tropical e pela característica de vegetação, possuem maior combustibilidade, o que torna comparações com a Amazônia indevidas. A Europa registra a maior área queimada desde o começo das medições por satélite em meio a sucessivas ondas de calor e a pior seca em meio milênio.