Entenda por que a colaboração entre governos estaduais e federal será fundamental para combater o desmatamento no bioma
Murilo Pajolla Brasil de Fato | Lábrea (AM)
Nos estados da Amazônia, governadores bolsonaristas declararam respeito ao resultado das urnas que devolveu a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o cargo de presidente da República.
São políticos que apoiaram Jair Bolsonaro (PL) no pleito de 2022 e se elegeram graças à onda bolsonarista de 2018. Agora, falam em diálogo e harmonia com a futura administração petista.
Com isso, sinalizam também que não darão apoio a uma possível ofensiva de Bolsonaro contra o resultado das urnas, isolando setores mais radicais que têm se manifestado favoravelmente a um golpe militar contra Lula.
Além disso, Lula terá que dialogar com os governadores da Amazônia se quiser cumprir a promessa de “desmatamento zero” no bioma, onde o crime ambiental e bolsonarismo andam juntos.
Confira o posicionamento dos governadores após a vitória de Lula e entenda, mais abaixo, por que a articulação entre governos estaduais e federais é fundamental para interromper a destruição da Amazônia.
Amazonas e Roraima: bolsonaristas de 1º hora querem diálogo
Reeleito governador do Amazonas no 2º turno, Wilson Lima (União) frisou que segue aliado de Bolsonaro, mas que vai dialogar com “quem quer que seja” para “defender os interesses do povo do Amazonas”. A declaração, dada durante o pronunciamento da vitória, foi acompanhada de gritos de “Lula” por parte da plateia. Lima sabe que no interior amazonense boa parte de seus eleitores – principalmente os mais pobres – são apoiadores do petista.
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Assim como Wilson Lima, o empresário Antônio Denarium (PP) ganhou projeção na onda bolsonarista de 2018 e acabou na cadeira de governador de Roraima, onde trabalhou ativamente para favorecer garimpeiros ilegais. Reeleito em 1º turno neste ano, o político reafirmou o “desejo soberano” das urnas após a vitória de Lula e falou em “diálogo, união e trabalho pelo povo brasileiro”. “Desejo sucesso e sabedoria ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva”, escreveu nas redes sociais.
Acre e Tocantins: reeleitos pregam respeito à vontade popular
Outro bolsonarista reeleito em primeiro turno é Gladson Cameli (PP) no Acre. Ao comentar a vitória de Lula, ele pregou respeito à “vontade popular” e cumprimentou o petista pela vitória. “Estamos prontos para trabalhar em harmonia com o governo federal”, publicou no Twitter. Cameli personificou a bolsonarização do Acre e desbancou 20 anos de administrações petistas no estado historicamente ligado ao Partido dos Trabalhadores e a Chico Mendes.
Wanderlei Barbosa, do TO: apoiou Bolsonaro, mas fez aceno a Lula / Divulgação/Ascom
No Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos) se reelegeu em 1º turno e desbancou o candidato bolsonarista oficial no estado, Ronaldo Dimas (PL). Mesmo assim, apoiou Bolsonaro no 2º turno e prometeu “hipotecar” seus votos para o presidente. Com Lula eleito, Barbosa parabenizou o petista e disse que as eleições ocorreram “de forma democrática e dentro das regras constitucionais”.
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Estados com bolsonarismo enraizado são exceção
O aceno positivo a Lula não ocorreu em dois estados onde o bolsonarismo se enraizou e rendeu lucros altos ao agronegócio predatório: Mato Grosso e Rondônia. Os respectivos governadores, Mauro Mendes (União) e Coronel Marcos Rocha (União), lamentaram a derrota de Bolsonaro sem citar Lula. “Sempre estaremos juntos [com Bolsonaro]”, publicou Rocha. Mendes declarou: “Deus abençoe o nosso Brasil nos próximos quatro anos e a todos que irão conduzir o país”.
Governadores lulistas
No Pará e no Amapá, Helder Barbalho (MDB) e Clécio Luís (Solidariedade) demonstraram alinhamento com Lula desde o início e celebraram a vitória do petista. Barbalho anunciou nesta segunda-feira (31) um convite para Lula participar da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022 (COP 27), o maior e mais importante encontro mundial sobre meio ambiente e mudanças climáticas.
Qual importância dos governos estaduais no combate ao desmatamento?
De fato, o governo federal é o responsável por conceber a preservação socioambiental da Amazônia como parte de um projeto de país. Mas os governos estaduais e as assembleias Legislativas têm papel fundamental para coibir e fiscalizar crimes ambientais.
No primeiro governo Lula, o Brasil implementou um plano que derrubou o desmatamento na Amazônia em 70%. Com base na orientação do governo federal, os governos criaram planos estaduais e incluíram diretrizes previstas no plano nacional, como ordenamento territorial, controle ambiental e fomento às atividades produtivas sustentáveis.
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Sob o comando de bolsonaristas, estados da Amazônia Legal têm estimulado a grilagem de terras por meio de leis que anistiam invasões. É imprescindível também que os governos estaduais deixem de conceder títulos de terra em áreas griladas.
A invalidação de Cadastros Ambientais rurais (CARs) sobrepostos de maneira ilegal a áreas protegidas também é uma ação concreta que as administrações devem priorizar no combate ao desmatamento e à grilagem de terras.
Edição: Nicolau Soares