Painel sobre bioeconomia contou com a presença de Txai Suruí, liderança indígena de Rondônia
O festival South by Southwest, realizado em Austin, no Texas, grande palco para tecnologia e inovação, recebeu nesta quarta-feira as brasileiras Txai Surui, liderança indígena de Rondônia, e Angela Pinhati, diretora de sustentabilidade, em um painel para discutir bioeconomia.
Na palestra “Bioeconomia: prosperando na Floresta Amazônica”, elas falaram sobre a importância do desenvolvimento sustentável.
Em entrevista ao CNN Innovation, Txai Surui explicou a importância de estar no SXSW. “Existe uma narrativa criada, principalmente no Brasil, de que a floresta é um empecilho para o desenvolvimento e para o chamado progresso. E a gente está aqui colocando que isso não é verdade. Isso é só uma narrativa. E que, na verdade, hoje a floresta vale muito mais em pé do que derrubada. O que a gente precisa hoje é de investimento em quem faz essa bioeconomia. Não tem como a gente falar de sustentabilidade sem falar das pessoas”, disse Txai.
Para a diretora de sustentabilidade da Natura, Angela Pinhati, estar no maior festival de tecnologia e inovação do mundo, tem uma importância enorme. “A gente quer trazer a construção desse futuro possível. E essa agenda é importante a gente compartilhar com o maior número de pessoas, para além dos convertidos”, afirmou. “E as tecnologias estão aí para ajudar a fazer essa transformação e ter produtos cada dia mais acessíveis e que incluem os aspectos ambientais e sociais em suas cadeias produtivas. É um exercício diário que, às vezes, começa com escolhas muito simples como levar sua sacola ao supermercado ou comprar menos com maior qualidade”.
As duas painelistas brasileiras dividiram o palco com a advogada Colette Pichon Battle, que lidera a ONG Taproot Earth, com foco em justiça social e ambiental. Colette trabalhou ativamente durante a tragédia do furacão Katrina, que em 2005 devastou a região da Louisiana, nos Estados Unidos, de onde ela é. E enxerga várias semelhanças entre sua terra natal e a Amazônia.
“Eu vivo no final do rio Mississipi, o mais volumoso de toda a América do Norte, e é uma região muito rica em água, petróleo e gás. E as únicas pessoas entre as gigantes multinacionais e toda a riqueza da região são as pessoas mais pobres e mais marginalizadas dos Estados Unidos. E isso não é algo que só aconteceu. Foi projetado assim. E muitas outras sociedades foram projetadas assim”, disse ela, durante o painel.
Segundo Colette, a previsão dos cientistas é o mundo verá mais de 180 milhões de pessoas desalojadas por conta das questões climáticas até 2100. “Uma crise migratória para o qual o mundo não está preparado”, explica ela, apontando para a urgência de falar sobre justiça social.
Txai, que coordena a Kanindé – Associação de Defesa Etnoambiental, aproveitou para dividir um pouco do seu olhar para uma plateia lotada, e convidou as palestrantes a cantar com ela uma música de sua cultura. “É importante pensar o meio ambiente com a tecnologia, para que a gente possa superar esse momento de emergência climática. Vim aqui propor soluções, trazendo o nosso olhar sobre as coisas, e o que a gente já vem desenvolvendo dentro dos nossos territórios”.