Por que a Bahia comemora a Independência em 2 de julho

Por que a Bahia comemora a Independência em 2 de julho

Data que marca atuação de baianos na expulsão de portugueses em 1823 tem festa popular com cortejo cívico nas ruas de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, todos os anos

A data simboliza a vitória após um ano e cinco meses de uma guerra sangrenta que mobilizou entre 10 a 15 mil soldados de cada lado, resultando em mais de duas mil mortes em combate, embora sua relevância regional ainda seja pouco conhecida em outras partes do Brasil. Há 201 anos, a Coroa Portuguesa foi expulsa de forma definitiva com a vitória do povo baiano, após persistentes lutas que culminaram na primeira batalha em 28 de junho, quando cachoeiranos capturaram uma embarcação portuguesa às margens do Rio Paraguaçu.

A Independência da Bahia é comemorada em 2 de julho porque foi nessa data, em 1823, que as forças brasileiras e a população baiana, lideradas por figuras como Maria Quitéria, conquistaram a vitória definitiva sobre as tropas portuguesas na Bahia. Em 25 de junho de 1822, a cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, iniciou levantes significativos e se tornou um ponto estratégico para a organização de ataques, abrigando líderes e tropas.

Este papel fundamental na independência da Bahia a posicionou como um dos primeiros centros de resistência contra o domínio português. Diversas regiões do país continuaram sob controle das forças portuguesas mesmo após a Independência do Brasil, proclamada por Dom Pedro I em 7 de setembro de 1822.

A resistência local, defendendo um governo composto por brasileiros, confrontou os lusitanos que buscavam manter a dominação colonial. As hostilidades perduraram até a batalha final em Salvador, em 2 de julho de 1823, após o 7 de setembro de 1822, conhecido como “Dia da Independência do Brasil”.

Um desfile, tombado como bem cultural pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), é realizado no estado desde 2006 para comemorar essa luta, manter viva a tradição de dar voz ao povo e lembrar o papel crucial da população nas lutas por liberdade e autonomia, tornando a celebração da Independência da Bahia um símbolo da luta popular, incorporando tanto elementos históricos quanto demandas contemporâneas por justiça social e igualdade ao longo dos anos.

Na festa da Independência da Bahia, que ocorre nesta terça-feira (2) no município de Cachoeira, a inclusão e diversidade são destacadas com a participação de sambas perseguidos no século 19, expressões das populações religiosas afro-brasileiras honrando seus ancestrais indígenas com indumentárias tradicionais, e a presença de grupos indígenas da Ilha de Itaparica, além de sertanejos vestindo suas roupas de couro típicas.

Maria Quitéria – A heroína baiana que lutou na Independência 

Maria Quitéria de Jesus, uma mulher parda com traços indígenas, desafiou as expectativas da sociedade e as ordens de seu pai ao se alistar como soldado Medeiros para lutar na Guerra da Independência na província da Bahia no ano de 1822. Maria Quitéria foi a primeira mulher a lutar no Exército Brasileiro e é considerada uma heroína da Independência.

Mesmo depois de ter sido descoberta, ela continuou a servir no batalhão e foi pessoalmente condecorada por Dom Pedro I pela sua batalha. Hoje, sua história é uma fonte de inspiração para mulheres que lutam por um país mais justo e igualitário. Vale lembrar que a Independência brasileira se tornou um movimento em defesa da chamada “pátria amada” pelo lado conservador do país e que se consolidou como um palco de patriotismo e militarização da direita.

Desde muito cedo, Maria Quitéria enfrentou diversas responsabilidades. Em um século em que as mulheres eram obrigadas a assumir trabalhos domésticos desde novas, Maria Quitéria se destacou por sua determinação e quebra de tradições. Maria Quitéria teve que usar roupas emprestadas e se entrosar com as equipes de batalha. Sua jornada começou em Cachoeira, berço da Independência do Brasil no Recôncavo Baiano, e terminou em Salvador.

“Ela recebeu esse epíteto de Soldado Medeiros visto que ela, além de tomar as roupas emprestadas do cunhado, que era José Medeiros, também tomou o sobrenome. A partir daí ela entrou no Batalhão dos Periquitos, lá em Cachoeira. Ela se entrosou mesmo com a tropa e participou de várias batalhas. Ela atravessou o Rio Paraguaçu com a água quase no pescoço, e teve uma grande vitória”, disse a historiadora Lélia Fernandes.

A Câmara Municipal de Salvador criou em 2016 uma medalha militar e uma comenda em homenagem a Maria Quitéria, destacando sua importância regional como combatente e a importância da Bahia na história nacional. Em 2018, ela foi declarada Heroína da Pátria Brasileira pela Lei Federal nº 13.697 e incluída no “Livro de Aço das Heroínas e Heróis da Pátria”. Leia mais nesta reportagem da Fórum.

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