“Selva”: a íntegra da investigação da PF que desnuda a OrCrim de Bolsonaro sobre as joias

“Selva”: a íntegra da investigação da PF que desnuda a OrCrim de Bolsonaro sobre as joias

O furto de joias, segundo a PF, é parte de apenas um dos cinco braços onde atuou a OrCrim de Bolsonaro, que trata justamente do uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens e enriquecimento ilícito

Revista Fórum – Na introdução do relatório de 2.041 páginas entregue à Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao Supremo Tribunal Federal (STF), o delegado da Polícia Federal Fábio Alvarez Shor, que comandou a equipe de investigadores, afirma que o esquema de furto de joias do acervo da União para venda nos EUA é apenas um dos braços da Organização Criminosa comandada por Jair Bolsonaro (PL) para “uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens” para enriquecimento ilícito do clã.

“O presente relatório trata da análise dos fatos relacionados ao eixo de atuação da ORCRIM, ora investigada, denominado “uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens”, especificamente ao subitem “Desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras ao ex-presidente da República, JAIR MESSISAS BOLSONARO, ou agentes públicos a seu serviço, e posterior ocultação com o fim de enriquecimento ilícito”, diz o documento.

“Cumpre informar que a análise a ser apresentada não é exaustiva, visto que a investigação ainda está em curso e novos dados podem ser encontrados nos materiais analisados ou decorrentes de novas diligências”, ressalta a PF, sinalizando que o valor de R$ 6,8 milhões pode ser ainda maior.

O furto de joias, segundo a PF, é parte de apenas um dos cinco braços onde atuou a OrCrim de Bolsonaro, que trata justamente do uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens.

A PF lista ainda os “ataques virtuais a opositores” e também “às instituições, às urnas eletrônicas e ao processo eleitoral”, os “ataques às vacinas contra a Covid-19 e medidas sanitárias na pandemia” e a “tentativa de golpe de Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito”.

O relatório da última, considerado o delito mais grave, deve ser apresentado nos próximos dias à PGR e ao STF, revelando a intenção final do grupo criminoso, de se perpetuar no poder com a frustrada ação desencadeada em 8 de janeiro de 2023.

Em ordem cronológica, tendo como base a perícia no telefone celular do tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, a PF detalha a “complexidade e da dinâmica em torno dos fatos investigados”, desde o furto das joias – transportadas em uma mala dentro do avião em que o ex-presidente fugiu para os EUA para não entregar a faixa a Lula, seu sucessor – até a estratégia para recomprar os artefatos diante do avanço das descobertas dos agentes.

“Selva”

Uma das principais provas contra Jair Bolsonaro apresentadas pela Polícia Federal é justamente a resposta, em jargão militar, para comemorar o leilão do “kit rose”, informado a ele por meio de um link enviado por Mauro Cid via WhatsApp no dia 4 de fevereiro de 2023.

“Selva”, celebra Bolsonaro sobre o leilão que seria feito 4 dias depois pela casa de leilões Fortuna Auction, com sede em Nova York.

“Nesse contexto, ratificando sua ciência e anuência na tentativa de alienação ilegal das joias, a análise dos dados armazenados no telefone celular apreendido em poder de JAIR MESSIAS BOLSONARO identificou cookies e históricos de navegação da página da empresa FORTUNA AUCTION, responsável pelo leilão do ‘kit ouro rose'”, diz a PF, que detalha que o ex-presidente acessou o link 21 minutos após receber a mensagem do ex-assessor.

“JAIR BOLSONARO encaminha para MAURO CID a mensagem ‘Selva’, demonstrando sua ciência sobre leilão das joias desviadas do acervo público brasileiro que ocorreria no dia 08 de fevereiro de 2023”, segue o relatório, que prova ainda que Cid enviou para Bolsonaro uma mensagem no dia do leilão do “kit”.

Em seguida, a PF confirma que Bolsonaro mentiu em depoimento sobre o desconhecimento da atuação da organização criminosa para venda das joias nos EUA.

“Os novos elementos de prova evidenciam que JAI RBOLSONARO, além de determinar o envio das joias para os Estados Unidos, também autorizou e acompanhou a tentativa de vendas dos itens do denominado ‘kit ouro rose’ em leilão realizado pela empresa FORTUNA, demonstrando que as informações prestadas pelo ex-presidente da República a Polícia Federal, em termo de declarações, são totalmente dissonantes dos fatos apurados, com a finalidade de ocultar a localização e a tentativa de alienação no exterior dos bens desviados do acervo público brasileiro”, conclui a PF.

As informações constam no relatório da investigação, que a Fórum disponibiliza na íntegra a seguir.

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