Revista Fórum – Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulgou vídeos que mostram novos ataques brutais de jagunços de fazendeiros contra indígenas Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul, na noite deste domingo (5). No sábado (4), um grupo armado já havia deflagrado ataquesem meio às retomadas na Terra Indígena Panambi-Lagoa Rica, identificada e delimitada desde 2011, em Douradina (MS), deixando ao menos dez Guarani Kaiowá feridos, dois em estado grave.
Segundo o Cimi, os novos ataques ocorreram com base em fake news publicadas em perfis de ruralistas nas redes sociais afirmando que os Guarani e Kaiowá “invadiram” mais fazendas em Douradina, indo além das sete retomadas em que já se encontram dentro dos limites da Terra Indígena Lagoa Panambi. O órgão afirma que “essa foi a senha para no começo da noite, entre 18 e 19 horas, mais um ataque contra os indígenas ter início, desta vez na retomada Yvy Ajere”.
A entidade informa, ainda, que testemunhas têm afirmado que a Força Nacional, que está na região, não teria atuado para impedir as agressões de jagunços, que estão atacando os indígenas com incêndios e disparos de munição letal com arma de fogo e bala de borracha.
Veja vídeos:
Ministério dos Povos Indígenas se manifesta
Em nota oficial sobre os ataques divulgada na noite deste domingo (4), o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) informou que equipes da pasta e da Funai que estavam de prontidão no Mato Gross do Sul foi até o território dos povos originários junto a agentes do Ministério Público Federal (MPF) para prestar atendimento às vítimas.
Além disso, o MPI informou que acionou o Ministério da Justiça para obter explicações sobre a ausência da Força Nacional no território indígena antes do ataque, e anunciou medidas para conter a investida dos fazendeiros contra os povos originários.
“A Força Nacional informou que o confronto ocorreu no início da tarde, no momento em que fazia o patrulhamento em outra área da mesma região onde acontecem outras retomadas. O MPI também emitiu ofício para o diretor-geral da Polícia Federal, solicitando a imediata investigação sobre os ataques contra os indígenas Guarani Kaiowá. O MPI fez, ainda, contato com o Comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar, que indicou que havia reforçado o policiamento e permaneceriam no local durante a noite para evitar um novo ataque. As equipes do MPI e da Funai seguem monitorando a situação de forma permanente, e a ministra Sonia Guajajara está em contato direto com o Ministério da Justiça”, diz trecho do comunicado.
Feridos estão fora de perigo
Os três indígenas Guarani e Kaiowá, feridos durante o ataque em Douradina estão fora de perigo de morte, segundo informações da equipe médica do Hospital da Vida em Dourados.
A atualização foi passada na manhã deste domingo (4) a representantes do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério dos Povos Indígenas (MPI). Os representantes se dirigiram em seguida às retomadas da Terra Indígena Lagoa Panambi para ouvir depoimentos sobre o ataque ocorrido no sábado (3).
J.F.C, de 17 anos, foi baleado no pescoço; E.A.G, de 20 anos, sofreu um disparo na cabeça; e R.H.C, de 16 anos, foi atingido na cintura e nas nádegas. Ao todo, dez indígenas ficaram feridos, incluindo uma idosa atingida por balas de borracha.
A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) mobilizou atendimento emergencial com apoio do Corpo de Bombeiros para transportar os feridos mais graves para Dourados. A Força Nacional retornou à área após pressão.
Relatos dos indígenas apontam que os jovens feridos estavam protegendo os barracos nas retomadas Kurupa’yty e Pikyxyin, onde mais de 30 crianças e quatro bebês estavam abrigados. Essas áreas, situadas ao norte da Terra Indígena, eram consideradas mais seguras, longe da concentração de jagunços acampados na retomada Yvy Ajere.
A Terra Indígena Lagoa Panambi conta com sete retomadas. Recentemente, as retomadas Guaaroka e Yvy Ajere têm sido alvo de antagonismo ruralista, resultando em liminares de reintegração de posse e convívio com acampamentos de jagunços. Os ataques, inicialmente concentrados nessas áreas, se espalharam para outras retomadas.
O incidente ressalta a tensão e os conflitos contínuos na região, necessitando de uma intervenção efetiva para proteger a vida e os direitos dos povos indígenas.
Acampamento do MST incendiado
Pelas redes sociais, o Cimi denunciou outro ataque do mesmo grupo que aterroriza os povos originários, dessa vez contra o acampamento Esperança, do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), localizado em Dourados (MS).
“Retaliação e violência – o acampamento Esperança, do MST em Dourados (MS), foi atacado e incendiado na madrugada deste domingo (4). Representantes do Esperança estiveram na segunda (29) nas retomadas de Douradina prestando solidariedade aos Guarani e Kaiowá”, diz a legenda do vídeo que mostra o incêncio
Cerca de 300 famílias moram no Acampamento Esperança, a poucos quilômetros de Douradina, que foi atacado e incendiado. Integrantes do local haviam visitado a Terra Indígena Lagoa Panambi na segunda-feira (29) para prestar solidariedade e levar mantimentos às retomadas Guarani e Kaiowá.
Durante a visita, os veículos da comitiva de solidariedade, composta por movimentos sociais, incluindo o MST, foram parados e inspecionados pelo Departamento de Operações de Fronteira (DOF). Documentos pessoais e placas dos carros foram fotografadas. No entanto, apenas os membros do MST foram obrigados a sair dos veículos e informados de que seriam autuados por invasão de propriedade privada.
No ataque da madrugada, testemunhas relataram a presença de cerca de dez caminhonetes e duas motocicletas.
“Fazendeiros não permitiram que o corpo de bombeiros agisse rapidamente, bloqueando o acesso imediato ao local dos incêndios. Alguns barracos foram destruídos pelo fogo, mas a infraestrutura será recuperada depois”, afirmou uma nota do acampamento Esperança. O texto enfatiza que a solidariedade do MST aos Guarani e Kaiowá permanecerá firme.
A nota ainda critica a ausência deliberada das autoridades de segurança. “A inércia e a falta de ações concretas de reforma agrária e demarcação de terras indígenas intensificam os conflitos agrários. Audiências e boas conversas são ineficazes”, conclui o comunicado do acampamento Esperança.