Apesar dos juros altos, crescimento robusto do setor impulsiona as previsões econômicas. Na comparação com outubro de 2023, o crescimento foi de 6,5%
247 – O varejo brasileiro registrou um desempenho superior às expectativas em outubro, consolidando 2024 como um dos anos mais positivos para o setor desde 2013, segundo economistas ouvidos pelo jornal Valor Econômico. A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo IBGE, revelou que o volume de vendas no varejo restrito cresceu 0,4% em relação a setembro, superando a previsão de recuo de 0,2% feita por consultorias e instituições financeiras. Na comparação com outubro de 2023, o crescimento foi de impressionantes 6,5%, também acima da projeção de 4,8%.
Os resultados foram analisados por economistas, como Isabela Tavares, da Tendências Consultoria, e Rodolfo Margato, da XP Investimentos, que destacaram os fatores que impulsionaram esse desempenho, como o fortalecimento do poder de compra e a estabilidade do mercado de trabalho.
O varejo ampliado, que inclui categorias como veículos, motos, material de construção e atacarejo, cresceu 0,9% em outubro, superando a previsão de estabilidade. Em relação ao mesmo mês de 2023, o avanço foi de 8,8%, também acima da expectativa de 7,3%. Entre os segmentos mais destacados no varejo restrito, móveis e eletrodomésticos lideraram, com alta de 7,5%, seguidos por equipamentos de informática e comunicação (2,7%) e tecidos, vestuário e calçados (1,7%).
Isabela Tavares aponta que o aumento do poder de compra, impulsionado pela estabilidade no mercado de trabalho e pelo crescimento da massa de renda, foi fundamental para esse desempenho. “Nosso índice de poder de compra, que considera inflação, condições financeiras e crédito, subiu 9,7% em outubro, contra 6,7% no mesmo mês de 2023. Isso explica por que o consumo tem surpreendido”, afirmou.
Ainda conforme a reportagem, o bom desempenho do varejo levou instituições financeiras como a XP a revisar suas projeções para o crescimento do PIB no quarto trimestre, passando de 0,6% para 0,7%. Para 2024, a previsão de crescimento do PIB permanece em 3,5%, enquanto o varejo ampliado deve crescer 5% e o restrito, 4,9%, segundo a Tendências Consultoria.
Rodolfo Margato destacou o papel decisivo das vendas de veículos nesse cenário. “Apesar dos juros elevados, o aumento do crédito para aquisição de veículos foi determinante. Estimamos crescimento de 15% nas vendas de veículos em 2024”, afirmou.
Apesar do otimismo em relação a 2024, os especialistas preveem uma desaceleração para 2025, impulsionada por juros mais altos, inflação e um câmbio desvalorizado. “Todas as contribuições positivas de 2024 devem perder força. Não prevemos recessão, mas um arrefecimento especialmente a partir do segundo trimestre”, diz Margato. Geórgia Veloso, do FGV Ibre, alerta que segmentos dependentes de importação, como o de tecnologia, podem ser os mais impactados.
A Black Friday também desempenhou um papel importante, com o fluxo de pessoas em shoppings crescendo 19,8% em comparação com 2023, segundo Tavares. “É um indicador de que novembro deve continuar no mesmo ritmo positivo, reforçando o desempenho geral do ano”, analisou a economista.