Por Claudinei dos Santos – O livro Amacro: a reorganização do capital no campo na Amazônia, de Afonso Chagas, publicado pela Editora Dialética, abre um debate essencial para compreendermos as transformações em curso na Amazônia sul-ocidental.
Sob uma lente que combina rigor científico e acadêmico, Chagas desvela a dinâmica de incorporação monopolista dos territórios amazônicos, um processo que vem redesenhando relações com florestas, rios e comunidades tradicionais.
A AMACRO, sigla para a região que engloba partes dos estados do Amazonas, Acre e Rondônia, emerge como experiência de regionalização da exploração capitalista, inserida na lógica primário-agroexportadora.
Segundo o autor, esta “corrida por terra e territórios” não é apenas uma disputa por recursos naturais, mas uma complexa reorganização territorial que envolve a desterritorialização de Povos e Comunidades Tradicionais e a adaptação das cidades a serviço desse modelo de acumulação.
A pesquisa demonstra como os impactos imediatos — desigualdade, esgotamento de recursos naturais e riscos climáticos extremos — são naturalizados como “custos inerentes”, enquanto a retórica da sustentabilidade ganha contornos de subterfúgio.
Termos como “bioeconomia”, “integração” e “segurança jurídica” são apresentados como soluções inovadoras, mascarando os efeitos devastadores desse modelo.
Para Chagas, a AMACRO exemplifica o projeto de “desamazonização”: uma tentativa de transformar a Amazônia em uma região funcional ao capital global, ignorando sua identidade ecológica e cultural.