Bilionários revoltados, inclusive Musk, colocam Trump contra a parede

Bilionários revoltados, inclusive Musk, colocam Trump contra a parede

Revista Fórum – Horas antes de entrarem em vigor tarifas de ao menos 10% sobre a grande maioria dos parceiros comerciais dos Estados Unidos — no caso da China, 104% — bilionários em polvorosa passaram a pressionar e em alguns casos atacar integrantes do governo Trump nos bastidores, nas redes sociais e em público.

Dentre eles, o homem mais rico do mundo, Elon Musk, que voltou a se referir ao principal assessor de Donald Trump para assuntos comerciais, Peter Navarro, como “mais burro que um saco de tijolos”. Posteriormente, Musk se desculpou com os tijolos.

Navarro, em entrevista, havia alfinetado Musk por conta de os carros da Tesla terem conteúdo produzido na China, Japão e Taiwan.

Influente assessor de Trump no chamado Departamento de Eficiência Governamental (“newspeak” para desmantelar o governo), Musk parece frustrado com o fato de que as ações da Tesla, uma de suas principais empresas, perderam 45% do valor desde o início do ano. Em dinheiro, isso significa o equivalente a R$ 3,5 trilhões.

Depois de um dia que começou relativamente calmo, com as bolsas dos Estados Unidos em alta, o mercado azedou de novo. Os índices futuros indicam que a quarta-feira, 9, pode ser outro dia de grandes perdas.

Apple perdeu U$ 640 bi em 3 dias

As ações da Apple perderam quase 20% do valor em apenas três dias, o que seria equivalente a U$ 640 bilhões em valor de mercado. A empresa estadunidense tem uma importante presença no mercado chinês.

O todo poderoso banqueiro Jamie Dimon, do JPMorgan Chase, chegou a se reunir com integrantes do governo para dissuadí-los de uma guerra comercial.

Num raro exemplo de discordância pública, o financista William A. Ackman escreveu que “a economia global está sendo derrubada por causa de matemática ruim”.

Apoiadores de Trump demonstram grande medo de se manifestar contra o presidente, por causa do espírito vingativo do ocupante da Casa Branca.

A matemática ruim a que se refere Ackman vem dos cálculos do próprio Trump, que afirma que com a imposição de tarifas os cofres do Tesouro ficarão cheios.

O presidente, que sempre usou o mercado financeiro como termômetro, agora diz que a crise é passageira.

É quase consenso nos EUA que as tarifas causarão inflação, desemprego e recessão, pois serão bancadas pelos importadores do país e possivelmente repassadas aos consumidores.

Resposta da China pegou a Casa Branca de surpresa

Assessores de Donald Trump aparentemente foram pegos de surpresa pela resposta da China, que disse estar pronta para enfrentar uma guerra comercial.

O Ministério do Comércio chinês, em nota, deu a posição oficial:

A ameaça de escalada tarifária dos EUA contra a China agrava seu erro e expõe ainda mais sua natureza de chantagem, que a China nunca aceitará. A China lutará até o fim se os EUA estiverem determinados a seguir o caminho errado.

O governo de Xi Jinping tomou uma série de medidas para estabilizar o mercado financeiro local.

Ao mesmo tempo, sinaliza com novas tarifas que poderiam penalizar os setores agrícola e energético dos Estados Unidos, duas bases de apoio eleitoral que ajudaram a levar Trump de volta à Casa Branca.

Num duro editorial, em que se referiu às medidas de Trump como “tirania comercial”, o China Daily refletiu o consenso da elite em Beijing:

Essas medidas [de Trump] tem como objetivo principal manter a posição privilegiada dos EUA em meio à ascensão do Sul Global, em vez de promover práticas comerciais justas. Além do comércio, os EUA se retiraram da Organização Mundial da Saúde, do Acordo Climático de Paris e de outras organizações e tratados internacionais, tudo em busca de ganho próprio. A União Europeia e o resto do mundo tem a responsabilidade de sustentar e melhorar o sistema global que os EUA parecem decididos a destruir.

Disparada de preços e recessão

Nos EUA, o presidente da BlackRock, a gigante de investimentos que gerencia U$ 10 trilhões em ativos, disse em um encontro público que a economia provavelmente já está em recessão e previu que as tarifas vão custar caro aos consumidores. Laurence Fink chegou a prever a disparada até mesmo do preço das bonecas Barbie.

Diferentemente do Brasil, o preço das ações nos Estados Unidos afeta diretamente a população. 62% dos estadunidenses tem algum tipo de carteira de ações. Muitos acompanham diariamente o vai e vem do mercado por terem o valor da futura aposentadoria ligado a uma cesta de ações. É o chamado 401(k).

Trump elegeu-se prometendo eliminar a inflação de alimentos e cortar os custos de energia da população.

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