Veja condena Marcela a ser vista como quem só nasceu mulher

Veja condena Marcela a ser vista como quem só nasceu mulher

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A nova edição da Veja com a esposa de Michel Temer na capa, merece ser questão no próximo Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM.

Antes que dirijam a mim os xingamentos que a filósofa, Simone de Beauvoir, recebeu em 2015 após uma de suas célebres frases virar pergunta no exame, esclareço que meu sentimento é de compaixão por Marcela.

Não deve ser nada fácil se encaixar no universo de poder comandado pelo marido, mamulengo de um grupo majoritariamente formado por homens velhos de corpo e ideias.

Aposto que estão tentando convencê-la de que apesar da reportagem na Veja ter surtido novamente efeito negativo pra ela, pra Temer é bom.

De novo, a pobrezinha tem a beleza e juventude realçadas como qualidades para ajudar o marido a sair do abismo de impopularidade em que se meteu.

Quando Temer tomou posse, a revista vendeu a imagem de uma primeira-dama bela, recatada e do lar.

O contexto era indiscutivelmente pejorativo, pois visava unicamente atribuir a ela estereótipos de gênero ultrapassados, tão apreciados por este Congresso que legisla pelo retrocesso.

A uma mulher que iria exercer importante função social no governo a que serviam tais adjetivos?

“Seus dias consistem em levar e trazer Michelzinho da escola, cuidar da casa, em São Paulo, e um pouco dela mesma também (nas últimas três semanas, foi duas vezes à dermatologista tratar da pele)”, destacou a jornalista Juliana Linhares.

Creio que com toda a comodidade que o cargo do marido lhe garante, Marcela se dedicava a bem mais do que a essas frivolidades.
Só que ela foi resumida a um padrão que as mulheres ainda lutam para desconstruir, ao destino de nascer mulher e não poder se tornar mulher.

Daí a necessidade de compreender e difundir a sentença de Simone de Beauvoir que impulsionou conquistas femininas na metade do século XX.

“Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino”.

O que a Veja conseguiu até agora foi somente mostrar que Marcela é como qualquer mulher, que por motivos que só as paredes confessa, mantem sua personalidade e capacidade intelectual enclausurada.

A cada capa com o apelo à jovialidade e boniteza da primeira-dama, não só ela, mas todas as mulheres são colocadas num plano que valoriza a beleza exterior.

Na última, Marcela aparece sendo maquiada e os jornalistas afirmam que ela “chamou atenção, despertou curiosidade, sem pronunciar uma palavra”, o que teria sido visto como isca a “uma agenda positiva” do marido.

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Resumindo, é uma mulher que pode ser servida aos olhares famintos dos velhos babões endinheirados como mera distração.
Coitada.

Segundo a Veja, assessores teriam convencido Temer a dá-la como oferenda para alavancar sua popularidade.

Que marido cafajeste!

Que destino triste, nascer mulher e não se tornar mulher.

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