“Nossa terra é o nosso espírito”, diz um dos líderes espirituais e políticos da Cinta Larga.
Na BBC NEWS
Por Fellipe Abreu e Luiz Felipe Silva
Roosevelt Área Indígena, Brasil
“Um indígena sem terra é um indígena sem alma”, diz sobre os desafios enfrentados por esse grupo indígena no Brasil.
O grupo vive na Área Indígena Roosevelt entre os estados de Rondônia e Mato Grosso.
A área contém o que poderia ser o depósito de diamantes mais abundante do mundo e são essas riquezas que são uma ameaça ao estilo de vida tradicional da Cinta Larga.
De acordo com a legislação brasileira, nenhuma exploração mineração deve ser realizada no território indígena e, no entanto, a mineração ilegal de diamantes vem acontecendo aqui desde 1999.
Uma área que mede 10 km por 2 km em tamanho e outra área adjacente chamada Grota do Sossego já foram desmatadas para mineração.
Ativistas de direitos indígenas advertem que a extensão do desmatamento pode ser muito maior e chegar a até 1.000 hectares.
Uma das minas artesanais da região é Lajes.
A estimativa é de que 100 milhões de reais (US $ 31,4 milhões) de diamantes está sendo extraído a partir dali anualmente – todo ele extraído ilegalmente. Geólogos do Serviço Geológico do Brasil calculam que tem o potencial de produzir mais de seis vezes esse valor.
Eles acham que a mina poderia render um milhão de quilates de diamantes por ano, valendo mais de US $ 200 milhões.
E Lajes não é o único local com riquezas potenciais. Um relatório da empresa de mineração sugere que a área poderia ter até 14 locais de kimberlite, as rochas conhecidas por vezes conter diamantes.
Se as estimativas fossem confirmadas, tornaria a Reserva Indígena Roosevelt o maior depósito de diamantes do mundo.
Os Cinta Larga dizem que se fosse por eles, não haveria mineração ilegal em suas terras.
“O problema é que o governo não nos ajuda de nenhuma forma e estamos em extrema necessidade de um monte de coisas”, um líder que preferiu não dar o seu nome explica.
“Nós não temos nenhuma medicação ou transporte e não há oportunidades para nós aqui.”
Os envolvidos na mineração ilegal trouxeram alguns serviços à comunidade indígena para tentar comprar a confiança dos Cinta Larga e convencê-los a permitir que a mineração avance na terra dos Cinta Larga, acrescenta.
As riquezas da terra em que vivem os Cinta Larga historicamente lhes trouxeram infortúnio. Antes dos diamantes serem descobertos, os garimpeiros de borracha mataram muitos deles por suas terras.
No incidente mais infame, em 1963, a dinamite foi lançada de um pequeno avião para uma aldeia de Cinta Larga, sob as ordens de um proprietário de uma plantação de borracha. A vila foi varrida para fora no que se tornou sabido como o massacre do 11o paralelo.
Reginaldo Trindade, que oficialmente defende os interesses da Cinta Larga em nome da Procuradoria Geral da República, afirma que “o risco de um novo genocídio é o mais alto desde então” por causa do atual conflito entre a Cinta Larga e os garimpeiros ilegais.
O grupo indígena, que já chegou a mais de 5.000, havia diminuído para apenas 1.758 no último censo de 2012.
Os Cinta Larga dizem que têm de recorrer à mineração de diamantes e ao tráfico para sobreviver. O grupo recebe alguma ajuda do Estado brasileiro, mas eles dizem que não é suficiente. Em 2014, a Cinta Larga recebeu pouco menos de 105.000 reais (US $ 33.000, 27.000), o que equivale a cerca de 58 reais por pessoa.
Mas a mina de diamantes tem atraído estranhos para a área e com eles vieram outros perigos. Bruno Lima e Silva, ex-coordenador regional da agência indígena Funai, diz que os Cinta Larga “são os mais afetados pela entrada de drogas, álcool, prostituição e violência” que a mineração de diamantes trouxe consigo.
Como os diamantes extraídos em Roosevelt são extraídos ilegalmente, obtê-los fora da área ainda atrai contrabandistas.
Os Cinta Larga dizem que a única solução que podem ver é que a proibição de mineração em Roosevelt seja levantada, então as pedras podem ser extraídas legalmente.
Dessa forma, eles poderiam explorar as riquezas abaixo de suas terras sem entrar em conflito com as autoridades e sem atrair os elementos criminosos atualmente envolvidos no contrabando de diamantes.
“Queremos que a mina seja legalizada”, diz o chefe Marcelo Cinta Larga.
Texto de Luiz Felipe Silva, fotografias de Fellipe Abreu.