Joesley Batista e Ricardo Saud foram presos após a divulgação de áudio em que sugerem que foram ‘orientados’ pelo ex-procurador da República, Marcelo Miller, sobre como conduzir o acordo de delação premiada.
“Por isso, é que eu quero que nós dois temos que estar 100% alinhado. Nós dois e o Marcelo, entendeu? É, mas nós dois temos que operar o Marcelo direitinho pra chegar no Janot e pá. Tã tã tã”, disse Joesley.
A prisão de Marcelo foi pedida pelo procurador geral Rodrigo Janot, mas, apesar de considerar ‘consistentes indícios de exploração de prestígio’, o ministro Edson Fachin negou o encarceramento.
Na imprensa, redes sociais, entre aliados ao governo e oposição, o assunto segue gerando polêmica.
Não bastasse isso, um dia antes da prisão de Joesley e Saud, um site de extrema-direita divulgou encontro entre Rodrigo Janot e o advogado Pierpaolo Bottini, que trabalha para o grupo J&F, num boteco de Brasília, dividindo uma cerveja.
De novo, o espanto coletivo, o bombardeiro virtual entre guerrilhas partidárias e rábulas.
A sociedade brasileira foi aos extremos quanto ao conceito de ética em apenas três anos, mudando conforme a conveniência, o que nos obriga a refletir sobre comoção popular a cada novo escândalo.
Encontro indecente e diálogos que revelam planos de obstrução de justiça não derrubaram Temer.
O encontro ‘casual’ de Janot com um advogado do Joesley num bar não deveria chocar tanto quanto o do presidente Temer com Joesley, na calada da noite, fora da agenda?
“Sempre pela garagem, viu?”, orientou Temer ao empresário.
E o que dizer do trecho em que Temer orienta Joesley a manter a compra do silêncio de Eduardo Cunha?
No áudio periciado pela Polícia Federal, Joesley diz ao presidente: “Então eu consegui um procurador dentro da força tarefa que também tá me dando informação. E lá que eu estou para dar conta de trocar o procurador.”
Temer se omitiu diante da flagrante confissão de obstrução de justiça. Pior, disse pra manter.
Mais grave e chocante que saber que o ex-procurador pode ter orientado Joesley, é ter ouvido Temer o orientar.
Por que não houve pressão popular suficiente para forçar a Câmara a aprovar a denúncia contra Temer? Por que não há na iminência de nova denúncia?
Até o senador tucano Aécio Neves orientou Joesley.
Aécio: Tem que ser um que a gente mata ele antes dele fazer delação [risos]
Joesley: [Risos] Eu e você. Pronto.. ou o Fred e um cara desses… pronto.
Aécio: Vamos combinar o Fred com um cara desse. Porque ele sai de lá e vai no cara. Isso vai me dar uma ajuda do c […]. Não tenho dinheiro pra pagar nada. Sabe porque eu tenho que segurar esse advogado? Queria indicar o Toron pra ele. A melhor imagem é a do meu avô, com a avaliação lá de 600 pra segurar o cara. Porque não tem mais, não tem ninguém que ajuda.
Então…
Essa pandemia de hipocrisia com a passividade como efeito colateral nos levou à lambança na Operação Lava Jato e à perda de confiança nas instituições.
Tanto foi questionado sobre os limites legais ultrapassados com o instituto da delação, sobre prisão como regra e não exceção, sobre tornar públicos depoimentos de investigados pra manipular o senso comum.
Rábulas virtuais venceram argumentos de juristas renomados.
O que Moro chamou de “aplicação ortodoxa da lei processual penal” com prisões preventivas impôs uma lambança na operação Lava Jato.
Os próximos capítulos desse escândalo monumental de corrupção vão confundir mais ainda, pois a segurança jurídica DesMOROnou.