Era janeiro de 2005 quando conheci o jovem que sempre chegava suado pra trabalhar na assessoria de comunicação da prefeitura de Porto Velho. Nem bem assumia meu posto, Paulo vinha com desculpa, ou melhor, com um pedido de desculpas por entrar ofegante e suado feito tampa de marmita. “Estava vendendo meus queijos chefa”, dizia, ao justificar o suor do trabalho que começava com a primeira mijada de raios de sol.
De família humilde, vendeu dim-dim, trabalhou como sacristão e à duras penas concluiu o segundo grau com ajuda de um casal da igreja que frequentava. Uma bolsa de estudos num curso preparatório ao vestibular garantiu vaga em duas faculdades, mas não para o que ele desejava, jornalismo.
Quando o conheci a assessoria de comunicação da prefeitura era o que sempre foi e provavelmente sempre será, um ambiente com muita gente, mas pouca gente trabalhando. Meu respeito e admiração pelo Paulo surgiram ali, ao vê-lo cumprir uma rotina que incluía vender queijos de porta em porta, trabalhar na assessoria e fazer faculdade à noite.
Com a venda de queijos numa velha moto Honda e o salário ridículo que ganhava na assessoria conseguiu concluir o curso de jornalismo.
A cena do finado Odair Cordeiro emprestando um notebook para que ele fizesse seus trabalhos acadêmicos, não esqueço. O velho tinha uns gestos nobres. Recordo como se fosse há pouco, Paulinho dizendo: “o senhor não vai se arrepender por me ajudar”.
Um jovem responsável, grato e humilde que conquistou além do meu respeito, a amizade.
Ao submeter seus textos à revisão, insistia para que fôssemos francos, eu e Antônio Alves e, claro, a gente sempre sacaneava com ele dizendo que estavam uma bosta. Nunca franziu a testa e demorou para descobrir que fazíamos isso
como estímulo a ir mais longe. A gente ria que doía naquele ambiente de trabalho puro a mofo.
Formou-se e foi trabalhar na prefeitura de Cacoal e daqui, a 420 km, aplaudi suas conquistas com emoção. Em 2013 recebo o convite de seu casamento, um gesto carinhoso já que sabia certa minha ausência.
Muitas luas se passaram por notícias dele, mas chegaram como quase todas hoje em dia, pela internet.
O menino do queijo acabara de concluir o curso de Direito, interrompido por três meses pra cuidar do pai que faleceu em Barretos sem realizar o sonho de ver o filho como ‘Doutor’.
Essa semana Paulo Henrique Silva inaugurou seu escritório de advocacia, fato que registrei com uma alegria soletrada. Hoje, quem diria… ele divide ações que capta no município de Cacoal, com meu esposo e seus sócios.
O rapaz do queijo chegou longe, pensei.
O mundo está cheio de histórias surpreendentes de superação e conquista e a do Paulo compartilho com um sorriso nos lábios e um quase lacrimejar. Dizem que temos que ficar de olho num tal cavalo selado que passa com uma oportunidade no lombo.
O Paulo correu atrás do cavalo.