Lojistas de shopping querem ir à Justiça para contestar alta de vendas do Natal

Lojistas de shopping querem ir à Justiça para contestar alta de vendas do Natal

Associação de lojistas satélites questiona crescimento divulgado pela Alshop


Joana Cunha
Paula Soprana

Folha de São Paulo

A Ablos (Associação Brasileira dos Lojistas Satélites) contesta o crescimento das vendas de Natal divulgado há dois dias pela Alshop, associação que reúne lojistas de shopping. O grupo pretende entrar na Justiça.

Segundo a Alshop, o comércio natalino no varejo de shopping subiu 9,5% em 2019 e o crescimento anual das vendas foi superior a 7,5% (em valores nominais).

“Para mim, é um dado plantado. É uma mentira. Estamos desconfiados de que foi manipulação com alguma segunda intenção”, afirma Tito Bessa Jr, que é presidente da Ablos e fundador da rede TNG. 

Bessa Jr. diz que planeja processar a Alshop e questionar a fonte da informação divulgada sobre o crescimento das vendas de Natal

A pesquisa interna da Ablos, segundo Bessa Jr., mostrou que 70% das lojas tiveram desempenho pior ou igual a 2018 e 30% disseram que melhorou pouco. “Mas esse pouco é 2% ou 1,5%. Não tem 9% de melhora. Pode ter acontecido pontualmente com alguém, mas falar que o varejo cresceu 9,5% é uma mentira”, diz o empresário.

Na rede TNG, segundo Bessa Jr., as vendas de Natal deste ano empataram com 2018.  

“Não sei de onde eles tiraram esse número, tenho conversado com vários lojistas e os mesmos disseram que tiveram queda”, afirma Ângelo Campos, diretor da MOB.

Fernando Kherlakian, diretor da rede Khelf, também estranhou os dados da Alshop. “A gente teve uma queda de 2% e eles estão falando que o mercado em geral cresceu 9%. Não é real isso”, diz. 

Tinho Azambuja, fundador da SideWalk, também contesta o dado da Alshop. 

“No dia 2 vou enviar notificação extrajudicial, particular da SideWalk, pedindo explicações sobre esses números. Eu quero saber de onde veio esse número totalmente irreal”, diz. 

Azambuja diz haver uma desconfiança geral no setor de que a Alshop tenha inflado o resultado das vendas natalinas para favorecer os shoppings. De acordo com o empresário, a SideWalk teve uma queda de 5% no grupo de mesmas lojas em relação 2018, que já havia registrado resultado fraco. 

Ele afirma que a Black Friday teve bom resultado e que a marca tinha altas expectativas de que o Natal repetiria o desempenho, mas foi uma desilusão. “Foi uma luta danada, fizemos promoção. Eu não sei de onde saiu esse número da Alshop”, diz Azambuja.  

A Gregory, de vestuário feminino, também registrou boas vendas na Black Friday, mas como a data caiu na última semana de novembro, contaminou a primeira quinzena de dezembro. 

“Tivemos queda de 7% nas lojas próprias. Nas pesquisas que temos acesso dos shoppings, o movimento pesado só aconteceu nos dois dias antes do Natal, 22 e 23”, diz Andrea Duca, diretora da marca.

Viktor Ljubtschenko, diretor da rede de pijamas e lingeries Any Any, relata queda de 8% em relação a 2018.

A Ablos foi fundada neste ano, em fevereiro, no contexto de um aumento das reclamações de falta de representatividade por parte de algumas redes de varejo. A associação registra mais de 90 marcas satélites, que são aquelas de lojas menores, com até 180 metros quadrados.

Entre os associados da Ablos há nomes como Melissa, TVZ, MOB, Any Any, Planet Girls e outros. 

Não fazem parte da Ablos as grandes redes de varejo, conhecidas como lojas “âncora”, que possuem lojas maiores, com poder de barganha para negociar aluguéis mais baixos nos shoppings.

Procurada pela coluna, a Alshop afirmou que a pesquisa é feita por amostragem para chegar aos números divulgados pela grande imprensa.

“Como mencionado na coletiva tanto o crescimento de 7,5% (no ano) e 9,5% (no período do Natal) são nominais e deste número devemos debitar a inflação no ano. O número não está fechado ainda, mas tomamos por base os 3,86% do IPCA estimados no dia 23”, afirmou. 

A Alshop diz que entidades como a Abrasce, associação dos shoppings, que não tem números fechados ainda, estimam alta parecidas.

Jornalista, Joana Cunha é formada em administração de empresas pela FGV-SP. Foi repórter de Mercado e correspondente da Folha em Nova York.

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