Energisa coloca lucro acima da vida e demite trabalhadores em plena pandemia

Energisa coloca lucro acima da vida e demite trabalhadores em plena pandemia

Marca Ceron deixa de existir em Rondônia — Foto: Pedro Bentes/G1

Vamos chamar de Antônio o trabalhador demitido há menos de um mês após quase oito anos de serviço como eletricista da Energisa.

‘Foi mandado embora’ no momento em que o país enfrenta a pandemia de Covid-19 e o desemprego de dois dígitos. No último acordo coletivo ficou acertado que só trabalhadores que estejam a um ano ou menos do direito à aposentadoria não serão demitidos.

Para Antônio faltam mais de quatro anos.

Ele entrou por meio de concurso público na empresa, tem mais de 50 anos e trabalhava no interior do estado.

Tem dois filhos e um deles ajudava financeiramente nos estudos com o salário de 3.900 reais. A esposa trabalha como dona de casa.

Não foi pego de surpresa com a demissão, pois conta que a pressão psicológica para forçar o empregado a pedir para sair é intensa e frequente.

“Eles caçam um jeito de demitir por justa causa, então tenho que achar bom não terem conseguido isso comigo, A gente ia trabalhar com a sensação de impotência”.

Antônio foi transferido antes da Ceron virar Energisa a preço de banana quando fazia um curso no seu local de origem, o que o obrigou a viagens constantes de um município a outro para concluí-lo.

O adicional de 25% pela transferência de um município a outro só foi pago durante um ano.

Pelo último acordo coletivo celebrado, esse benefício agora corresponde a 1 (um) salário base para custear as despesas com a transferência.

Sobre o que sente por ser demitido durante crise econômica piorada com a pandemia de Covid-19, disse que “a ganância da Energisa é algo que todos percebem na empresa e na cidade”.

Este blog já conversou com três trabalhadores demitidos pela Energisa em plena pandemia. Sem rumo, não podem planejar nada para manter as famílias. Eles perderam salários, auxílios à alimentação, à educação e à assistência médica que alcançava cônjuges e filhos.

Quem relata humilhação e desespero não quer o nome revelado. Tem trabalhador demitido com vergonha, com depressão e até medo de abrir a boca contra um grupo tão poderoso.  

A receita líquida informada no site da empresa em 2019, foi de R$ 19,9bilhões, 26,0% acima do valor registrado em 2018.

Leia aqui: https://pt.scribd.com/document/451481547/Energisa-RI#fullscreen&from_embed

Dias piores virão conforme a reunião ocorrida no último dia 17 para discutir no contexto da pandemia o que vai impactar nos direitos dos trabalhadores, como Medidas provisórias, a PLR 2019 e o ACT 2020.

“A empresa informou que aplicará a MP 936, com a redução de 25% da jornada de trabalho e consequentemente a redução do mesmo percentual no salário, e que também adotará a suspensão de contratos, alegando que nenhum trabalhador será prejudicado”, segundo Informe do sindicato.

A Energisa não tem por que demitir sob a alegação de perdas durante a pandemia.

A agência reguladora, a ANEEL, com a resolução 414/2020 proibiu o corte de energia elétrica do consumidor que tiver conta atrasada por um período superior a 90 dias. Está suspenso o corte, não a cobrança, o que será feito tão logo expire a resolução.

A MP 950 determinou o desconto de 100% para quem consome até 200 kWh/mês, o que será pago com dinheiro de um Fundo Setorial (RGR), que todo consumidor contribui nas contas mensais.

Leia aqui: http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2010414.pdf

O Sindicato dos Trabalhadores da Indústrias Urbanas de Rondônia, o SINDUR, informou que protocolou denúncia no Ministério Público do Trabalho para tentar barrar as demissões pelo menos enquanto durar a pandemia.

“Lutamos para que o trabalhador enfrente essa situação de emergência com uma qualidade de vida minimamente razoável”, informou o sindicato.

“Nossa energia está nas pessoas” é o slogan do pilar que a empresa alega sustentar os valores com colaboradores, investidores, fornecedores e clientes em seu site.

As campanhas de marketing da Energisa são impecáveis, mas falsas.

Desde que adquiriu em 2018 as Centrais Elétricas de Rondônia, a Ceron, a empresa só colhe duras críticas dos consumidores e empregados. Não goza de satisfação e muito menos credibilidade. Não é exagero dizer que a maioria detesta a Energisa.

Como uma empresa do setor elétrico construiu uma imagem tão negativa em menos de dois anos?

 
A resposta não está só na conta de energia, nos aumentos absurdos aplicados até aqui. A empresa que arrematou a Ceron encontrou aqui uma população desinformada e desinteressada e condições contratuais vantajosas inéditas.


Não faltou aviso, o sindicato da categoria investiu pesado em publicidade de rádio, televisão e internet para alertar sobre os riscos da entrega de um patrimônio dos rondonienses à iniciativa privada.
 
“Se a Ceron for privatizada, sua conta de energia vai aumentar”, alertava a campanha do Sindur, hoje um sindicato que perdeu força nas negociações com a empresa e com ele toda a sociedade.
 
Quem ouvia falar das coisas boas que a Energisa traria a uma empresa prejudicada com a interferência política, não tinha noção dos termos da venda e os prejuízos que suportariam.
 
Antes do leilão, várias denúncias foram encaminhadas ao MPF, TCU e MPE, pelo SINDUR e SENGE. Houve atos em protesto aos termos do edital de venda e uma audiência pública sem políticos e sem imprensa.

Entre as principais objeções à venda, estava a flexibilização das regras do setor elétrico relacionadas à qualidade dos serviços e outros indicadores para viabilizar a qualquer custo, a privatização.

O 5º maior grupo distribuidor de energia elétrica do país hoje atende 20 milhões de brasileiros.

Não precisaria demitir se lançasse um olhar humano sobre seus colaboradores e clientes.

Em breve, mais histórias como a de Antônio serão contadas aqui para demonstrar que a energia que move a Energisa é o lucro.

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