‘Contrato social está rompido’, diz BID sobre desigualdade na AL

‘Contrato social está rompido’, diz BID sobre desigualdade na AL

AFP – O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) advertiu, nesta sexta-feira (11), sobre a desigualdade na América Latina, afirmando que o contrato social está rompido na região e que a crise da covid-19 tem características “regressivas” que afetam os pobres de forma desproporcional.

O informe “A Crise da Desigualdade: América Latina e Caribe na Encruzilhada” (em tradução livre para o português) destaca que, historicamente, a região teve problemas para enfrentar as crises.

Como exemplo, em outros eventos desta natureza no passado, quando o Produto Interno Bruto (PIB) se contraiu 5%, o impacto sobre os salários reais foi de 10% em média e, em alguns casos extremos, de 20%.

Segundo o FMI, em 2020, a região sofrerá uma contração de 9,4% do PIB. O Banco Mundial calcula que, este ano, 25 milhões de empregos serão perdidos.

O Banco Interamericano destacou que a crise da covid-19 “tem algumas características que a tornam especialmente regressiva”, já que “afetou desproporcionalmente os lares de baixa renda” e aqueles que dependem da “proximidade humana”.

“Vemos como o contrato social está rompido em muitos níveis”, advertiu o economista-chefe do BID, Eric Parrado, ressaltando que a desigualdade na América Latina e Caribe “é bem conhecida, mas não necessariamente bem entendida”.

O Banco destacou que a região da América Latina e Caribe entrou nesta crise com três poblemas estruturais severos: alta informalidade, desigualdade e baixa produtividade.

Em 2018, a região tinha níveis de desigualdade superados apenas pela África ao sul do Saara.

– “Episódios de mal-estar social” –

Em um contexto de vulnerabilidade, os pobres estão mais expostos à mudança climática e recebem uma pior educação e atendimento de saúde, disse o Banco.

Como resultado, nossas escolas e cidades estão segregadas por rendas em níveis que não se veem em outras partes”, alertou a instituição.

O BID destacou que a região avançou na redução das disparidades de renda, especialmente durante o boom das matérias-primas entre 2000 e 2013. Nesse período, houve uma redução da pobreza de 42,3% em média em 2002 para 23,1% em 2018. Essa mudança levou milhões de pessoas à classe média.

Este avanço também permitiu reduzir o abismo entre ricos e pobres. Em 2019, 10% dos mais ricos da região ganhavam 22 vezes mais do que os 10% mais pobres. Em 2000, a proporção era de 49 vezes mais.

Um dos pontos de destaque no relatório é a segregação por status socioeconômico – com Brasil como exemplo.

Gênero e raça também determinam a desigualdade.

As mulheres ganham 87 centavos por cada dólar que um homem recebe. E, na comparação dos salários dos cidadãos afro-descendentes, ajustando-os ao nível educacional, eles recebem salários 17% mais baixos do que o restante da população e, no caso dos indígenas, chega-se a 27%.

A educação é outro fator que agrava a desigualdade. As diferenças na qualidade da educação explicam 25% da desigualdade salarial, já que há “uma importante separação das escolas por status social”.

“Os indivíduos de alta renda investem 25 vezes mais na educação dos filhos do que os pais de baixa renda”, diz o estudo.

Para Parrado, se não se abordar o desafio da desigualdade de uma maneira multidimensional, a região continuará sofrendo de episódios de mal-estar social e continuará sendo vulnerável a choques externos, como evidenciou a pandemia da covid-19.

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