Um, dois, feijão sem arroz

Um, dois, feijão sem arroz

Em fevereiro, antes de a pandemia começar, um morador do Rio de Janeiro comprava 21 quilos de feijão preto com 100 reais. Seis meses depois, em agosto, esse mesmo valor só comprava 14 quilos.

LUIZA FERRAZ E RENATA BUONO 

Revista Piauí

preço dos alimentos da cesta básica dos brasileiros subiu depois da pandemia, principalmente em agosto. Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o pacote de 10 quilos de arroz, por exemplo, chegou a custar, em média, 45 reais na capital do Rio de Janeiro, um aumento de aproximadamente 18% em relação a 2019 – já considerada a inflação. Além disso, a redução do valor do auxílio emergencial para 300 reais pode piorar ainda mais a situação. Com o novo benefício, não é possível comprar uma cesta básica nem mesmo em Aracaju, capital de Sergipe e cidade com a cesta mais barata. O =igualdades mostra o impacto do aumento desses preços no bolso e na mesa dos consumidores.

Em fevereiro, antes de a pandemia começar, um morador do Rio de Janeiro comprava 21 quilos de feijão preto com 100 reais. Seis meses depois, em agosto, esse mesmo valor só comprava 14 quilos.

Além do feijão, o arroz também sofreu com a alta nos preços. Se uma moradora de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, decidisse gastar 100 reais para comprar só arroz em fevereiro, antes do início do isolamento social, ela conseguiria levar 35 quilos para casa. Mas, em agosto, se ela levasse o mesmo dinheiro, compraria 9 quilos a menos.

Uma das possíveis explicações para a alta no preço dos alimentos da cesta básica é o aumento da exportação desses produtos, graças à valorização do dólar. De janeiro a agosto de 2019, o Brasil exportou 665 mil toneladas de arroz. No mesmo período deste ano, a exportação quase dobrou: foram 1,15 milhão de toneladas de arroz enviadas para outros países.

São Paulo foi uma das cidades onde o óleo de soja mais encareceu desde agosto de 2019. Naquela época, se um paulista comprasse 100 reais em óleo, ele conseguiria colocar 30 garrafas no carrinho do supermercado. Já em agosto deste ano, ele só conseguiria 21. Isso porque o item teve um aumento de 41,8% nas prateleiras.

No Sul, o churrasco, prato típico da região, ficou mais salgado em comparação ao ano passado. Em agosto de 2019, se uma moradora de Florianópolis utilizasse 100 reais para comprar carne, ela conseguiria assar 4 quilos. Já em agosto deste ano, com os mesmos 100 reais, só conseguiria 3 quilos.

Assim como no caso do arroz, também houve aumento das exportações de carne. Enquanto o churrasco por aqui fica mais magro, lá fora fica mais gordo. De janeiro a agosto de 2020, o Brasil exportou pouco mais de 1 milhão de toneladas de carne congelada, 22% a mais que no mesmo período do ano passado. 

A redução no valor do auxílio emergencial terá impacto direto no consumo das famílias. Na cidade de São Paulo, por exemplo, com 600 reais era possível comprar 6 quilos de carne, 8 litros de leite, 5 quilos de feijão, 3 quilos de arroz, 2 quilos de farinha, 6 quilos de batata, 9 quilos de tomate, 6 quilos de pão francês, 600 gramas de café, 90 bananas, 3 quilos de açúcar, 1 garrafa de óleo de soja… e ainda sobravam 60 reais para 20 latinhas de cerveja. Já com 300 reais,  dá para comprar 6 quilos de carne, 8 litros de leite, 5 quilos de feijão, 3 quilos de arroz, 2 quilos de farinha, 3 quilos de açúcar, uma garrafa de óleo e uma dúzia de bananas.

Fonte: DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos); Estatísticas de Comércio Exterior – Comex Stat.

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