Com vacinação em xeque, busca pela palavra ‘impeachment’ quadruplica em janeiro na web

Com vacinação em xeque, busca pela palavra ‘impeachment’ quadruplica em janeiro na web

Dados do Google Trends mostram que termo foi o quinto assunto mais buscado pelos internautas, na semana passada, na categoria ‘Política’

Camila Turtelli e Daniel Weterman, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – As buscas pela palavra “impeachment” na internet deram um salto em janeiro e quadruplicaram em comparação com dezembro, num momento em que a crise sanitária provocada pela covid-19 se agrava e o governo enfrenta dificuldades para colocar em prática o plano de vacinação, desgastando a imagem do presidente Jair Bolsonaro

Segundo dados do Google Trends, fornecidos com exclusividade ao Estadão/Broadcast, “impeachment” foi o quinto assunto mais buscado no Google pelos internautas, na semana passada, na categoria “Política”. A procura pelo termo “impeachment Bolsonaro” neste mês foi sete vezes superior ao nível de dezembro.


As buscas em janeiro sobre o assunto estão ainda em seu nível mais alto desde maio do ano passado. Nas últimas semanas, outros acontecimentos também reforçaram as críticas ao governo, como a morte de pacientes por asfixia no Amazonas e Pará e o fim do pagamento do auxílio emergencial. 

O período conturbado para a imagem de Bolsonaro também ajudou a engordar a pilha de pedidos de impeachment que se acumula na Câmara, porta de entrada para um possível processo de derrubada do presidente da República. 

Desde o início de seu mandato já chegaram 61 pedidos para o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dos quais 5 foram arquivados por questões formais e 56 seguem ativos. Do total, dois entraram em janeiro e ao menos mais um deve ser protocolado, nesta terça-feira, 26, por partidos de oposição. 

A decisão de apresentar uma nova denúncia por crime de responsabilidade foi anunciada na quarta-feira, 20. O pedido deve ser assinado por PT, PSB, PDT, PSOL, PCdoB, e Rede. O argumento usado é a questão sanitária, “na omissão e na responsabilidade do governo Bolsonaro na pandemia”.

Recesso

No entanto, o destino deste e dos demais pedidos não estará mais nas mãos de Maia; ele só conseguiria deliberar agora sobre um processo de impeachment caso conseguisse por fim ao recesso legislativo, decisão que depende de votação e aprovação da maioria absoluta da Câmara e Senado. 

Caberá ao próximo presidente da Câmara decidir se autoriza ou não o processo. Baleia Rossi(MDB-SP), apoiado por Maia, e Arthur Lira (PP-AL), endossado pelo Palácio do Planalto, são os nomes que lideram a corrida atualmente e deverão herdar a pilha de pedidos de afastamento. 

“A vitória de Lira não impede o impeachment. Esse é um processo que nasce de fora para dentro. Lira também era base de Dilma (Rousseff, ex-presidente) e virou o PP em prol da derrubada da presidente nos 45 do segundo tempo”, afirma o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), coordenador nacional do MBL, movimento que protagonizou o impeachment da petista em 2016. 

O MBL chegou a apoiar Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018, mas passou a defender seu impeachment durante a pandemia, no ano passado, e agora coordena protestos por sua saída. Ontem, MBL e Vem Pra Rua organizaram carreatas em São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais. Eles foram convidados pelo Movimento Acredito a integrar a carreata nacional da Frente Ampla, sábado, 23, pelo mesmo motivo, mas negaram a participação por causa da inclusão de partidos de esquerda. No sábado, segundo a Central Única dos Trabalhadores, uma das organizadoras das manifestações, pelo menos 87 cidades do país tiveram atos cobrando o afastamento do presidente.

Candidata à presidência da Câmara pelo PSOL, a deputada Luiza Erundina (SP) criticou a demora de Maia em deliberar sobre o tema. “Querer fechar o Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF), fazer comício público pedindo a ditadura militar, recebendo os torturadores da ditadura. Pelo amor de Deus, se isso não é crime de responsabilidade eu não sei o que é. Portanto, o senhor Rodrigo Maia e a Presidência da Câmara estão muito atrasados nas suas prerrogativas de já ter livrado o País e o povo brasileiro dessa desgraça que é o governo de Jair Bolsonaro”.

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