PARLAÍNDIO BRASIL PEDE EXONERAÇÃO DO PRESIDENTE DA FUNAI EM AÇÃO POPULAR NA JUSTIÇA FEDERAL DO DISTRITO FEDERAL

PARLAÍNDIO BRASIL PEDE EXONERAÇÃO DO PRESIDENTE DA FUNAI EM AÇÃO POPULAR NA JUSTIÇA FEDERAL DO DISTRITO FEDERAL

Instituição também protocolou petição à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal requerendo que os povos originários sejam consultados, previamente, sobre os projetos de lei que afetam a vida dos indígenas e pedindo o trancamento dos projetos de lei que tramitam no Congresso e ameaçam direitos constitucionais indígenas

O Parlaíndio Brasil, parlamento indígena cujo presidente de honra é o cacique Raoni Metuktire e tem como missão dar voz e visibilidade política às lideranças tradicionais e representativas dos povos originários do país, entrou nesta sexta-feira, 29, com uma ação popular na justiça federal do Distrito Federal, que solicita a exoneração do presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Augusto Xavier da Silva, por conduzir o órgão de maneira oposta aos interesses dos Povos Indígenas. A decisão foi aprovada por unanimidade pelas 50 lideranças quem compõem o Parlamento Indígena do Brasil durante a primeira assembleia virtual do movimento que ocorreu em maio deste ano. O Parlaíndio Brasil conta com o apoio de advogados voluntários que prestam assessoria jurídica para o encaminhamento dessas ações. 

De acordo com o coordenador executivo do Parlaíndio Brasil, cacique Almir Suruí, o presidente da Funai não tem cumprido a missão institucional de proteger e promover os direitos dos povos indígenas do país. “A Funai é um órgão que deve promover assistência, proteção e garantias dos direitos dos povos indígenas brasileiros e, atualmente, faz o inverso. Por isso, entramos com uma ação popular pedindo a exoneração dele”, afirma. 

No final de abril, Marcelo Xavier solicitou à Polícia Federal a abertura de um inquérito contra o cacique Almir Suruí e Sônia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), sob o pretexto de difamarem o Governo Federal e outras falsas acusações. A PF arquivou os processos por falta de argumentos sólidos. Recentemente, a APIB junto com a Defensoria Pública da União também entrou com ação na justiça pedindo o afastamento do presidente da Funai. 

Segundo o advogado Ramires Andrade, existem subsídios suficientes para que se determine o afastamento de Marcelo Xavier. “As lideranças do Parlaíndio avaliam que o atual presidente da Funai não se presta ao papel de defender os interesses dos povos indígenas. Pelo contrário, ele atua de maneira oposta à medida em que persegue lideranças e organizações indígenas; mobiliza o aparato estatal e as forças de segurança do país para constranger as lideranças e organizações; exerce notória militância em pautas pro-ruralistas e anti-indígenas, à míngua dos direitos dos povos e dos territórios indígenas, a exemplo das instruções normativas 09/2020 e 01/2021, que violam os direitos dos povos originários, entre outros”, afirma. 

Já de acordo com o advogado Luiz Eduardo Bueno, a ação popular tem por objetivo a destituição de Marcelo Augusto Xavier da presidência da Funai em razão do desvio de finalidade e violação às normas da Constituição da República. “A conduta do atual presidente da Funai demonstrou-se, por inúmeras vezes, incompatível com a natureza do cargo ocupado. Ele vem atuando de forma lesiva à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio cultural dos povos indígenas”, afirma. 

Petições na Câmara dos Deputados e no Senado Federal

Tramitam no Congresso Nacional diversos projetos de lei que afetam diretamente os povos indígenas, em razão disso, o Parlaíndio Brasil também protocolou duas petições destinadas à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal com o objetivo de solicitar o trancamento da tramitação de todas as proposições legislativas que não cumprem o que determina a Convenção n. 169, da OIT, da qual o Brasil é signatário. De acordo com o que estabelece o art 6º da Convenção n. 169, da Organização Internacional do Trabalho, ratificada por meio do Decreto Legislativo n. 143/2004, é direito dos povos indígenas e dever do estado que toda e qualquer proposição legislativa ou administrativa de interesse dos povos indígenas, sejam precedidas de consulta livre, prévia e   amplamente informada.

“A Convenção 169 baseia-se no respeito às culturas e aos modos de vida dos povos indígenas e reconhece os nossos direitos à terra e aos recursos naturais, e a definir nossas próprias prioridades para o desenvolvimento. Ela deixa de forma mais explícita a questão da necessidade de consulta prévia, livre e informada como um instrumento de negociação, um instrumento de diálogo entre o governo, o Estado e os povos. O Brasil ratificou esse documento em 2002, se comprometendo perante o mundo a proteger os povos e comunidades tradicionais”, ressalta o cacique Almir Suruí. 

Segundo o advogado Ramires Andrade, não se trata de mera recomendação da OIT ou de conveniência política de quem quer que seja. “A consulta livre prévia e informada é uma imposição legal com força normativa integrante do ordenamento jurídico interno e que serve às proposições afetas aos povos indígenas como requisito de legalidade. Significa dizer que a eventual aprovação de projetos de leis que não atendam às determinações insculpidas no art. 6º, da convenção n. 169 da OIT, é materialmente ilegal e, consequentemente, inconstitucional por vício no processo legislativo”, afirma. 

4ª Assembleia virtual do Parlaíndio

Em novembro, o Parlaíndio irá realizar a 4ª Assembleia virtual com a participação das principais lideranças indígenas do país. Entre as pautas que serão debatidas durante o encontro estarão: Expectativas em relação a ação que pede a exoneração do presidente da Funai; PL 490 – Marco Temporal; Desmatamento e invasões das terras indígenas; Projetos de mineração e hidrelétricas; Garimpo ilegal; Projeto de lei da CPI da grilagem e Preservação da Amazônia e demais biomas nacionais.

Sobre o Parlaíndio Brasil

Atualmente, no Brasil vivem mais de 900 mil indígenas, de 305 povos distintos, que falam mais de 180 línguas. E o Parlaíndio Brasil, lançado em maio de 2021, surge como um importante e novo espaço de discussão política para que os anciãos, pajés e caciques mais antigos, detentores dos saberes tradicionais, da tradição cultural e da espiritualidade ancestral, possam participar diretamente de suas aldeias, assumam o protagonismo e participem ativamente da discussão nacional das questões indígenas, conquistem visibilidade política e denunciem, a sociedade brasileira e ao mundo, as graves ameaças aos seus povos e ao meio ambiente e proponham alternativas e soluções sustentáveis de forma colegiada e democrática. 

Em tempos de pandemia, o parlamento funciona como uma assembleia virtual permanente com encontros mensais que segue uma pauta com foco na defesa dos direitos constitucionais indígenas e na preservação ambiental. A instituição, que conta com a colaboração do indigenista Toni Lotar, tem os apoios do Instituto Raoni, da Associação Metareilá do Povo Paiter Suruí, da Fundação Darcy Ribeiro e da Embaixada da França no Brasil. 

O presidente de honra do Parlaíndio Brasil é Cacique Raoni Metuktire, líder indígena brasileiro da etnia Kayapó Mebengokrê, conhecido em todo o mundo por sua luta pela preservação da Amazônia e dos povos indígenas. Em 2020, Raoni teve a candidatura apresentada ao comitê organizador do Prêmio Nobel da Paz. O coordenador executivo do Parlaíndio Brasil é o cacique Almir Narayamoga Suruí, principal liderança do povo Paiter Suruí de Rondônia e também reconhecido internacionalmente por suas ações e projetos de sustentabilidade em terras indígenas. 

Mais informações sobre o Parlaíndio no site: www.parlaindiobrasil.com.br

Assessoria de Comunicação do Parlaíndio Brasil

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