Aliança indígena, negra e popular no Vale do Guaporé

Aliança indígena, negra e popular no Vale do Guaporé

Por Luciana Oliveira – Os povos de comunidades tradicionais que vivem na região do Vale do Guaporé se reuniram na aldeia Aperoi do povo indígena Puruborá, no município de Seringueiras.

O objetivo é fortalecer a resistência e luta por políticas públicas que garantam proteção de seus territórios e cultura.

Foi o terceiro encontro promovido pela Comissão Pastoral da Terra e parceiros.

Indígenas, quilombolas e extrativistas compartilharam dores, saberes e sabores por três dias em terra à espera de demarcação.

O encontro realçou as raízes e a ancestralidade de povos que pedem respeito e atenção do poder público contra ameaças às suas terras e modo de viver.

Em carta, os povos repudiaram a omissão dos órgãos de fiscalização na demarcação e proteção de seus territórios.

Veja a reportagem:

Leia a Carta:

CARTA DO TERCEIRO ENCONTRO DOS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DO GUAPORÉ.

Nós existimos!

Unidos e reunidos, por ocasião de nosso terceiro encontro da rede dos povos tradicionais do Guaporé, nos dias 27, 28 e 29 de maio de 2022, em terra sagrada dos parentes Puruborá, no Rio Manoel Correia, Aldeia Aperoí, município de Seringueiras. Nós, povos indígenas Puruborá, Migueleno, Kujubim, Guarassugwe, Tupinambá, Aruá, Tremembé, Kaxinawá, Wajurú, comunidades quilombolas, Santo Antônio, Jesus, Pedras Negras, Forte Príncipe da Beira, Rolim de Moura do Guaporé; comunidades extrativista, Rio Cautário,  Rio Ouro Preto, Aquariquara; comunidade tradicional ribeirinha do baixo madeira; juntamente com as entidades que caminham junto conosco, como a Organização dos povos indígenas do estado de Rondônia/OPIROMA, a Comissão Pastoral da Terra, o Conselho Indigenista Missionário, a Cáritas Brasileira articulação Noroeste, o Conselho de Missão entre Povos Índios/COMIN, Comitê da Bacia Hidrográfica dos Rios São Miguel- CBHRSMVDG, Defensoria Pública e Ouvidoria da DPE. Queremos reafirmar nossa existência e nossa resistência na luta por Território Livre – autónomos – o nosso Bem Viver, em comum convivência com a natureza, respeitando o direito natural da mãe terra, da água e das florestas, garantindo as gerações, presentes e futuras.

Mergulhando em nossas raízes e bebendo de nossa ancestralidade, percebemos que os elementos que nos une são muito maiores do que, o que nos divide. As nossas diferenças é o que faz a diferença: NÓS SOMOS NOSSAS RAÍZES E NOSSA ANCESTRALIDADE É O QUE NOS MOVE! E assim assumimos nossos acordos do coração de caminharmos juntos, fazendo brotar no estado de Rondônia, a teia dos povos indígenas e comunidades tradicionais do estado de Rondônia.

Neste país chamado Brasil,  as coisas nunca foram fáceis para nós, o que conquistamos foi a custa de muita luta e muito sangue derramado, por aqueles e aquelas que nos antecederam; nossas comunidades continuam sendo violadas pela falta de políticas públicas e de respeito à dignidade humana, por gestores públicos que não respeitam a autonomia do povo e não têm nenhum interesse de fazer valer a Constituição Federal, onde nossos direitos deveriam ser garantidos, a exemplo, quando nos negam a educação do jeito que queremos, de qualidade e diferenciada, assumidas por nós; uma saúde que não atende as nossas diferenças como povos indígenas e comunidades tradicionais que somos, existem comunidades que além de não ter postos de saúde, não recebem equipe médica há mais de três anos; negando nossos direitos e autonomias na gestão de nosso território, inclusive em algumas realidades não temos o direito de decidir sobre o uso do veículo que foi destinado as comunidades quilombolas, onde nos negam descaradamente o uso colocando obstáculos burocráticos.

Refletindo sobre os nossos territórios que ainda se encontra nas mãos dos invasores, afetando nosso direito de Bem Viver e denunciamos: Os processos de regularização e de demarcação que caminham em passos lentíssimos, em um orquestrado projeto de nos fazer calar pelo cansaço; Questionamos  essa morosidade, que contribui ainda mais com a destruição de nossas terras, de nossas florestas, que estão sendo saqueadas, tombadas por  correntões de tratores; nossos igarapés está sendo contaminado; nossas comunidades e suas lideranças estão sendo criminalizadas, assassinadas por aqueles que cometem seus crimes, porque tem a impunidade como certa;   repudiamos os órgãos de fiscalização, ICMBio, IBAMA, SEDAM, FUNAI, INCRA, que deveria está comprometido e em apoio aos povos e suas comunidades e na verdade são verdadeiros perseguidores de nossas comunidades, inclusive, com um caso de homicídio ao comunitário José Pantoja da Resex Rio Cautário, em 2017. 

Exigimos: A demarcação dos territórios dos povos indígenas Puruborá, Kujubim, Migueleno, Wajurú e Guarassugwe; A regularização dos quilombos, Forte Príncipe da Beira, Santo Antônio, Pedras Negras, Tarumã, Laranjeiras, Santa Cruz e Rolim de Moura do Guaporé; Demarcação, defesa e proteção da vida e dos territórios dos povos indígenas em situações de isolamento voluntário; O esclarecimento e responsabilização do  inquérito que investiga a morte do companheiro José Pantoja;  Políticas públicas que realmente contribua com nossas comunidades, que seja assegurados em primeiro lugar, a contratação de professores da própria comunidade; Que os municípios, invistam em política públicas que contribua na geração de renda das famílias;

Na certeza de que, unidos somos mais fortes e que os encantados caminham junto conosco, saímos desse encontro ainda mais fortalecidos em lutar por nossos direitos na defesa de nossos territórios e na busca por demarcação já! NÃO VAMOS NOS CALAR! Juntos e juntas nessa aliança indígena, preta e popular!

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