Além do arroz, o movimento também perdeu as plantações de hortas que abastecem 48 feiras orgânicas em Porto Alegre. “Tudo isso se perdeu, além da estrutura, estufas, máquinas e casas”, conta Salete, que diz ter apenas a roupa do corpo, que veio de doações. “As 300 casas de Eldorado do Sul foram destruídas. A gente não sabe nem se vai ter telhado na sede da nossa cooperativa. Não sabemos o que vamos encontrar lá dentro, onde estavam nossos estoques de alimentos.”
“O estoque está na memória das pessoas. A gente está literalmente com a roupa do corpo porque recebemos doações, nós temos a comida hoje porque recebemos doações”. Salete acrescenta que, para tentar voltar a produção, é preciso esperar no mínimo 100 dias após a água abaixar.
A coordenadora também conta sobre o relato de uma assentada que afirma não querer voltar ao local após a situação normalizar, visto que é a terceira vez que os assentados perdem tudo. “É uma decisão muito consciente e saudável, porque nós já sofremos três vezes essas catástrofes. E elas não vão parar, porque o modo de produção do capital força esses eventos climáticos“, pontua.
Salete também ressalta que além da perda atual dos alimentos, há a perda da biodiversidade do local, o que impede produções futuras. “O que está em jogo é uma guerra de nós seres humanos contra a natureza. Essa é uma situação que a gente nunca viveu e prova que nós não estávamos preparados para a gravidade desta catástrofe“, diz.
“Agora, nós temos ensinamentos e missões que mostram que a gente não pode voltar a repetir os mesmos erros. Os governos têm compromissos que eles têm que colocar em prática, e nós da sociedade civil temos a necessidade de forjar um novo processo de debate, proposições e ações“, concluiu.
Solidariedade
Mesmo em meio à catástrofe e após ter perdido tudo, os assentados do MST reforçam a importância da solidariedade. Nesta terça-feira (7), o movimento iniciou uma cozinha solidária em Viamão para fornecer quentinhas a famílias desabrigadas de Eldorado do Sul. O objetivo é abrir ainda mais iniciativas como essa, além de postos de saúde e brigadas.
“À medida que as condições foram melhorando, conseguimos fortalecer as cozinhas que já estavam funcionando em Porto Alegre e abrimos uma em Viamão, onde o helicóptero vai lá pegar as marmitas e levar para os locais isolados. Além disso, nós estamos fornecendo há dois dias uma quantidade muito grande de água pelos trajetos possíveis por terra”, conta. “Nós anunciamos um pix e o pessoal está sendo bastante solidário, e nós precisamos transmitir essa nossa porção de solidariedade nos colocando à disposição naquilo que a gente consegue fazer”, acrescenta.
O objetivo futuro, quando as águas baixarem, é montar um QG do MST em Eldorado para atendimento gratuito à saúde com a rede de médicos e psicólogos que conta com mais de 200 voluntários. Além disso, o movimento prevê a instalação de brigadas para ajudar a reconstruir os territórios.
Como doar ao MST no RS
Campanha de Solidariedade às vítimas das enchentes no RS.
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