Assentamentos do MST no RS perdem toda produção de arroz agroecológico

Assentamentos do MST no RS perdem toda produção de arroz agroecológico

Em entrevista à Fórum, a coordenadora do movimento no RS relata a situação dos assentados, que perderam tudo e dependem de doações de alimentos e roupas

Revista Fórum – As fortes chuvas que assolam o Rio Grande do Sul deixam um rastro de destruição em cada região que atingem. Esse é o caso dos assentamentos do Movimento Sem Terra (MST) no estado, responsáveis por produzir arroz agroecológico e outros alimentos, que foram devastados pelas enchentes.

O arroz orgânico produzido pelo MST no Rio Grande do Sul corresponde a 70% da produção nacional. O movimento se constitui como o maior produtor do grão da América Latina. Ao todo, o MST produz 865 mil hectares de arroz de todos os tipos – entre orgânico e não orgânico.

Em entrevista à Fórum, a coordenadora estadual do MST no RS, Salete Carollo, conta sobre a situação das famílias assentadas e suas produções. Segundo Carollo, o arroz já estava na fase de colheita quando um forte vendaval derrubou a plantação e as chuvas alagaram o local. “Não vai ter produção este ano. Perdemos tudo”, conta.

A plantação de arroz destruída já era fruto da resistência de tentar, novamente, plantar. Nas enchentes passadas que atingiram o RS – que, em menos de um ano, foi atingido por quatro tragédias climáticas – o movimento já havia perdido grande parte da produção. Após o episódio, os assentados conseguiram plantar, mesmo fora de época, em outro canto da região.

Além do arroz, o movimento também perdeu as plantações de hortas que abastecem 48 feiras orgânicas em Porto Alegre. “Tudo isso se perdeu, além da estrutura, estufas, máquinas e casas”, conta Salete, que diz ter apenas a roupa do corpo, que veio de doações. “As 300 casas de Eldorado do Sul foram destruídas. A gente não sabe nem se vai ter telhado na sede da nossa cooperativa. Não sabemos o que vamos encontrar lá dentro, onde estavam nossos estoques de alimentos.”

“O estoque está na memória das pessoas. A gente está literalmente com a roupa do corpo porque recebemos doações, nós temos a comida hoje porque recebemos doações”. Salete acrescenta que, para tentar voltar a produção, é preciso esperar no mínimo 100 dias após a água abaixar.

A coordenadora também conta sobre o relato de uma assentada que afirma não querer voltar ao local após a situação normalizar, visto que é a terceira vez que os assentados perdem tudo. “É uma decisão muito consciente e saudável, porque nós já sofremos três vezes essas catástrofes. E elas não vão parar, porque o modo de produção do capital força esses eventos climáticos“, pontua.

Salete também ressalta que além da perda atual dos alimentos, há a perda da biodiversidade do local, o que impede produções futuras. “O que está em jogo é uma guerra de nós seres humanos contra a natureza. Essa é uma situação que a gente nunca viveu e prova que nós não estávamos preparados para a gravidade desta catástrofe“, diz.

“Agora, nós temos ensinamentos e missões que mostram que a gente não pode voltar a repetir os mesmos erros. Os governos têm compromissos que eles têm que colocar em prática, e nós da sociedade civil temos a necessidade de forjar um novo processo de debate, proposições e ações“, concluiu.

Solidariedade

Mesmo em meio à catástrofe e após ter perdido tudo, os assentados do MST reforçam a importância da solidariedade. Nesta terça-feira (7), o movimento iniciou uma cozinha solidária em Viamão para fornecer quentinhas a famílias desabrigadas de Eldorado do Sul. O objetivo é abrir ainda mais iniciativas como essa, além de postos de saúde e brigadas.

“À medida que as condições foram melhorando, conseguimos fortalecer as cozinhas que já estavam funcionando em Porto Alegre e abrimos uma em Viamão, onde o helicóptero vai lá pegar as marmitas e levar para os locais isolados. Além disso, nós estamos fornecendo há dois dias uma quantidade muito grande de água pelos trajetos possíveis por terra”, conta. “Nós anunciamos um pix e o pessoal está sendo bastante solidário, e nós precisamos transmitir essa nossa porção de solidariedade nos colocando à disposição naquilo que a gente consegue fazer”, acrescenta.

O objetivo futuro, quando as águas baixarem, é montar um QG do MST em Eldorado para atendimento gratuito à saúde com a rede de médicos psicólogos que conta com mais de 200 voluntários. Além disso, o movimento prevê a instalação de brigadas para ajudar a reconstruir os territórios.

Como doar ao MST no RS

Campanha de Solidariedade às vítimas das enchentes no RS.

Contribua com qualquer doação através dos dados bancários:

  • Banco: 350;
  • Agência: 3001;
  • Conta: 30253-8;
  • CNPJ: 09.352.141/0001-48;
  • Nome: Instituto Brasileiro de Solidariedade;
  • Chave Pix: 09352141000148.

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