MPF recomenda desativação completa da barragem de mineração Taboquinha 02, em Rondônia, até o final do ano

MPF recomenda desativação completa da barragem de mineração Taboquinha 02, em Rondônia, até o final do ano

Arte retangular com fundo que lembra uma folha de papel, sobre a qual uma mão segurando uma caneta está prestes a escrever. Em destaque: a palavra Recomendação e a logomarca do MPF.

O Ministério Público Federal (MPF) recomendou que a empresa Estanho de Rondônia S/A (Ersa), que faz parte do Grupo Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), conclua, até o dia 31 de dezembro de 2024, o processo de descaracterização da Barragem Taboquinha 02, localizada na Floresta Nacional do Jamari, norte de Rondônia. Leia Mais

O problema não é o show da Madonna, é o desmatamento

O problema não é o show da Madonna, é o desmatamento

Infoamazonia, por Carolina Dantas – Em meio à tragédia devido à enchente no Rio Grande do Sul, brasileiros disseminam informações falsas sobre a festa em Copacabana e, assim, esquecem de olhar para o que realmente influencia o aquecimento global. As emissões brasileiras de gases do efeito estufa são consequência da devastação da Amazônia ano a ano e, se bobear, o governo federal vai flertar cada vez mais com a exploração do petróleo no país. Leia Mais

Subjugada no RS, crise climática está associada a maior enchente do Estado. Entrevista especial com Francisco Eliseu Aquino

Subjugada no RS, crise climática está associada a maior enchente do Estado. Entrevista especial com Francisco Eliseu Aquino

IHU e Baleia Comunicação – Em menos de um ano, o Rio Grande do Sul conseguiu bater diversos recordes trágicos e agora passa pela maior catástrofe ambiental já registrada. Conforme o boletim da Defesa Civil, do final do dia 4 de maio, são 317 municípios atingidos (mais de 63% das cidades), mais de meio milhão de pessoas diretamente afetadas, 82,5 mil pessoas fora de casa, sendo 13,3 mil em abrigos e 69,2 mil desalojados, na casa de familiares ou amigos. Até o começo do domingo eram 55 mortes confirmadas e sete em investigação e ao menos 74 desaparecidos. Mas, os números devem ser ainda piores, pois há inúmeros locais ilhados e muitos resgates a serem feitos.

Na noite do sábado, 4 de maio, a Defesa Civil emitiu um novo alerta de tempestades para a metade norte do Estado e um novo mapa com a área para o risco de inundação severa. A chuva praticamente não dá trégua. Nos últimos dias a precipitação alcançou entre 500 e 600 milímetros em apenas 24 horas, volume previsto para todos os meses de outono. O nível do rio Guaíba havia alcançado 5,24 metros às 20h.

Em meio à sequência de desastres que vive o Estado desde setembro de 2023, recentemente, a Assembleia Legislativa aprovou e o governador Eduardo Leite sancionou a Lei 16.111/24. A legislação flexibiliza a construção de barragens para irrigação do agronegócio em Áreas de Preservação Permanente – APPs, na contramão de uma política de preservação ambiental, fundamental para a mitigação de eventos climáticos extremos.

Uma cegueira em relação ao colapso climático, que literalmente adentrou às casas do Rio Grande do Sul, conforme afirma o professor Francisco Eliseu Aquino, ao comentar como o lobby do agronegócio tem conexão direta com as enchentes. “A flexibilização ambiental de margens de rio, áreas úmidas e alagadas, banhados, a maior expansão sobre áreas de biomas e preservação, concorrem diretamente para amplificação da mudança climática e dos desastres”, explica o professor em entrevista por telefone ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Além da mudança climática, o bloqueio atmosférico, a saída do El Niño, os oceanos aquecidos, e uma grande onda de calor provocaram essa alta precipitação, relata Aquino. “A combinação de ciclones extratropicais entre a Antártica e o Rio Grande do Sul e o calor com bloqueio atmosférico da onda de calor do Brasil central criou o ambiente atmosférico extremo Trópico-Polo responsável por esse desastre que observamos na última semana”, esclarece o geógrafo.

Francisco Eliseu Aquino (Foto: Arquivo pessoal)

Francisco Eliseu Aquino é graduado em Geografia, mestre em Geologia Marinha e doutor em Geociências, com ênfase em mudanças climáticas entre a Antártica e o Sul do Brasil, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É professor do Departamento de Geografia da UFRGS.

Confira a entrevista.

IHU – Os dados atuais sobre as enchentes, ainda em curso, dão conta de que esta deve ser a maior tragédia climática do RS. Estamos diante de uma catástrofe de que magnitude?

Francisco Eliseu Aquino – É difícil categorizar e dar a dimensão. Consideramos o evento em curso, sem dúvida, na minha interpretação e análise, ela supera com larga facilidade a enchente de 1941. Isso pelo volume de água precipitada em um curto espaço de tempo – cercas de uma semana. Comparativamente, em 1941, foram meses de chuva contínua, e aqui nós estamos falando de poucos dias de chuva excepcionalmente extrema. A condição atmosférica em que observamos esse fenômeno e essa magnitude, isto é, intenso e acelerado, é, sem dúvida, uma combinação entre oceano e atmosfera mais quentes, tem toda a questão da emergência climática. E a influência do El Niño, que facilita disparar precipitação intensa para a região Sul do Brasil, ele condiciona esse ambiente atmosférico, mas o Planeta mais quente intensifica – e muito – sistemas meteorológicos chamados de Complexos Convectivos de Mesoescala, que são esses aglomerados envolvendo tempestades com raio, granizo, vendaval e chuva muita intensa. Esses fenômenos, característicos da nossa região, estão sendo incrementados e sua capacidade de despejar chuva e também na sua duração. E, no final, para ampliar mais a dimensão desse desastre em curso, é a duração do fenômeno. Esse comportamento de um Planeta mais quente e do clima, característico da Região Sul, que rivaliza com a região Antártica, está, nesse momento, amplificando os eventos extremos em todas as épocas e meses do ano, em especial de 2023 para 2024, três inundações sem precedentes pela magnitude das três e mesmo considerando que a atual já superou a de 1941 do ponto de vista de uma comparação histórica de, pelo menos, um século.

Imagens da enchente em Montenegro/RS. O município é banhado pelo rio Caí, que no dia 1º de maio atingiu a 16,67, superando a pior cheia já registrada, em 2023, com 16 metros. As imagens foram cedidas pelo colega João Vitor Santos, que mora na cidade. 

IHU – Quais foram as condições climáticas, do ponto de vista ambiental e geológico, que levaram o RS a atual situação?

Francisco Eliseu Aquino – É uma condição sinótica muito, muito diferenciada do que nós vimos no passado. Primeiro, estamos ainda em uma quarta onda de calor, uma região de bloqueio atmosférico, ar quente e seco, na região Central e Sudeste do Brasil. Esse bloqueio atmosférico gera valores de temperaturas elevadas para essa época do ano – acima de 7ºC e 10ºC pelo menos – em várias regiões por ela atingida. Esse mesmo bloqueio impede a passagem de sistemas frontais – frentes frias – e também aprisiona os ciclones extratropicais ao Sul do Rio Grande do Sul e a Sudeste do nosso Estado. Paralelamente, esse bloqueio, favorece a intensificação e a manutenção por dias do transporte de umidade da Amazônia, guiado pelos Andes até o Rio Grande do Sul. Então, a combinação de ciclones extratropicais entre a Antártica e o Rio Grande do Sul e o calor com bloqueio atmosférico da onda de calor do Brasil central criou o ambiente atmosférico extremo Trópico-Polo responsável por esse desastre que observamos na última semana. Os Complexos Convectivos de Mesoescala, que são os maiores e mais duradouros sobre o Rio Grande do Sul ou sobre o Sul do Brasil se olharmos toda a América do Sul, ganharam a condição extrema graças às mudanças do clima e o El Niño para gerar esse fenômeno que estamos presenciando.

IHU – Em setembro e novembro de 2023 houve grandes enchentes no RS. Agora, em maio de 2024, menos de seis meses depois, estamos diante de outra situação extrema. O que explica a recorrência desses eventos em intervalos tão curtos?

Francisco Eliseu Aquino – A amplificação das mudanças climáticas, que intensifica os eventos e a sua própria recorrência, o El Niño contribui e ainda é preciso adicionar a essa interpretação que o ano de 2024 já é o mais quente comparativamente ao mesmo período de 2023. Portanto, já iniciamos um ano excepcionalmente quente, com os oceanos anomalamente quentes, mas um El Niño em arrefecimento. Então, a saída do El Niño ainda gera seus sinais e efeitos na atmosfera, porém, a mudança do clima se soma, amplificando – ou dando uma ênfase maior – aos fenômenos meteorológicos aqui vividos na última semana.