Impactos da rodovia BR-319 – 3: benefícios ilusórios

Impactos da rodovia BR-319 – 3: benefícios ilusórios

Amazônia Real, por Por Philip Martin Fearnside – Os benefícios sociais da pavimentação da BR-319 têm sido muito exagerados tanto no discurso político quanto na imaginação dos beneficiários. Com exceção dos povos Indígenas, a grande maioria das pessoas que se encontram na área ao longo do percurso da rodovia são apoiantes entusiásticos do projeto de reconstrução e esperam que a estrada lhes traga conveniência e prosperidade [1]. Leia Mais

‘Cidades inteiras do RS terão que mudar de lugar’, diz pesquisador que alertou para despreparo contra chuvas

‘Cidades inteiras do RS terão que mudar de lugar’, diz pesquisador que alertou para despreparo contra chuvas

BBC, por Lígia Guimarães – “O comportamento das chuvas mudou. Eu tenho feito um levantamento e já percebi que de 2013 pra frente nós temos um acumulado de precipitação [chuvas] no mês de mais de 300 mm. A minha pergunta é: o que nós, por exemplo, na Defesa Civil, temos programado para prever essas possibilidades? Em algum momento, vamos começar a ver [inundações] em áreas em que a água não chegava com tanta frequência e vamos lembrar disso que estamos falando aqui.”

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MPF recomenda desativação completa da barragem de mineração Taboquinha 02, em Rondônia, até o final do ano

MPF recomenda desativação completa da barragem de mineração Taboquinha 02, em Rondônia, até o final do ano

Arte retangular com fundo que lembra uma folha de papel, sobre a qual uma mão segurando uma caneta está prestes a escrever. Em destaque: a palavra Recomendação e a logomarca do MPF.

O Ministério Público Federal (MPF) recomendou que a empresa Estanho de Rondônia S/A (Ersa), que faz parte do Grupo Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), conclua, até o dia 31 de dezembro de 2024, o processo de descaracterização da Barragem Taboquinha 02, localizada na Floresta Nacional do Jamari, norte de Rondônia. Leia Mais

O problema não é o show da Madonna, é o desmatamento

O problema não é o show da Madonna, é o desmatamento

Infoamazonia, por Carolina Dantas – Em meio à tragédia devido à enchente no Rio Grande do Sul, brasileiros disseminam informações falsas sobre a festa em Copacabana e, assim, esquecem de olhar para o que realmente influencia o aquecimento global. As emissões brasileiras de gases do efeito estufa são consequência da devastação da Amazônia ano a ano e, se bobear, o governo federal vai flertar cada vez mais com a exploração do petróleo no país. Leia Mais

Subjugada no RS, crise climática está associada a maior enchente do Estado. Entrevista especial com Francisco Eliseu Aquino

Subjugada no RS, crise climática está associada a maior enchente do Estado. Entrevista especial com Francisco Eliseu Aquino

IHU e Baleia Comunicação – Em menos de um ano, o Rio Grande do Sul conseguiu bater diversos recordes trágicos e agora passa pela maior catástrofe ambiental já registrada. Conforme o boletim da Defesa Civil, do final do dia 4 de maio, são 317 municípios atingidos (mais de 63% das cidades), mais de meio milhão de pessoas diretamente afetadas, 82,5 mil pessoas fora de casa, sendo 13,3 mil em abrigos e 69,2 mil desalojados, na casa de familiares ou amigos. Até o começo do domingo eram 55 mortes confirmadas e sete em investigação e ao menos 74 desaparecidos. Mas, os números devem ser ainda piores, pois há inúmeros locais ilhados e muitos resgates a serem feitos.

Na noite do sábado, 4 de maio, a Defesa Civil emitiu um novo alerta de tempestades para a metade norte do Estado e um novo mapa com a área para o risco de inundação severa. A chuva praticamente não dá trégua. Nos últimos dias a precipitação alcançou entre 500 e 600 milímetros em apenas 24 horas, volume previsto para todos os meses de outono. O nível do rio Guaíba havia alcançado 5,24 metros às 20h.

Em meio à sequência de desastres que vive o Estado desde setembro de 2023, recentemente, a Assembleia Legislativa aprovou e o governador Eduardo Leite sancionou a Lei 16.111/24. A legislação flexibiliza a construção de barragens para irrigação do agronegócio em Áreas de Preservação Permanente – APPs, na contramão de uma política de preservação ambiental, fundamental para a mitigação de eventos climáticos extremos.

Uma cegueira em relação ao colapso climático, que literalmente adentrou às casas do Rio Grande do Sul, conforme afirma o professor Francisco Eliseu Aquino, ao comentar como o lobby do agronegócio tem conexão direta com as enchentes. “A flexibilização ambiental de margens de rio, áreas úmidas e alagadas, banhados, a maior expansão sobre áreas de biomas e preservação, concorrem diretamente para amplificação da mudança climática e dos desastres”, explica o professor em entrevista por telefone ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Além da mudança climática, o bloqueio atmosférico, a saída do El Niño, os oceanos aquecidos, e uma grande onda de calor provocaram essa alta precipitação, relata Aquino. “A combinação de ciclones extratropicais entre a Antártica e o Rio Grande do Sul e o calor com bloqueio atmosférico da onda de calor do Brasil central criou o ambiente atmosférico extremo Trópico-Polo responsável por esse desastre que observamos na última semana”, esclarece o geógrafo.

Francisco Eliseu Aquino (Foto: Arquivo pessoal)

Francisco Eliseu Aquino é graduado em Geografia, mestre em Geologia Marinha e doutor em Geociências, com ênfase em mudanças climáticas entre a Antártica e o Sul do Brasil, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É professor do Departamento de Geografia da UFRGS.

Confira a entrevista.

IHU – Os dados atuais sobre as enchentes, ainda em curso, dão conta de que esta deve ser a maior tragédia climática do RS. Estamos diante de uma catástrofe de que magnitude?

Francisco Eliseu Aquino – É difícil categorizar e dar a dimensão. Consideramos o evento em curso, sem dúvida, na minha interpretação e análise, ela supera com larga facilidade a enchente de 1941. Isso pelo volume de água precipitada em um curto espaço de tempo – cercas de uma semana. Comparativamente, em 1941, foram meses de chuva contínua, e aqui nós estamos falando de poucos dias de chuva excepcionalmente extrema. A condição atmosférica em que observamos esse fenômeno e essa magnitude, isto é, intenso e acelerado, é, sem dúvida, uma combinação entre oceano e atmosfera mais quentes, tem toda a questão da emergência climática. E a influência do El Niño, que facilita disparar precipitação intensa para a região Sul do Brasil, ele condiciona esse ambiente atmosférico, mas o Planeta mais quente intensifica – e muito – sistemas meteorológicos chamados de Complexos Convectivos de Mesoescala, que são esses aglomerados envolvendo tempestades com raio, granizo, vendaval e chuva muita intensa. Esses fenômenos, característicos da nossa região, estão sendo incrementados e sua capacidade de despejar chuva e também na sua duração. E, no final, para ampliar mais a dimensão desse desastre em curso, é a duração do fenômeno. Esse comportamento de um Planeta mais quente e do clima, característico da Região Sul, que rivaliza com a região Antártica, está, nesse momento, amplificando os eventos extremos em todas as épocas e meses do ano, em especial de 2023 para 2024, três inundações sem precedentes pela magnitude das três e mesmo considerando que a atual já superou a de 1941 do ponto de vista de uma comparação histórica de, pelo menos, um século.

Imagens da enchente em Montenegro/RS. O município é banhado pelo rio Caí, que no dia 1º de maio atingiu a 16,67, superando a pior cheia já registrada, em 2023, com 16 metros. As imagens foram cedidas pelo colega João Vitor Santos, que mora na cidade. 

IHU – Quais foram as condições climáticas, do ponto de vista ambiental e geológico, que levaram o RS a atual situação?

Francisco Eliseu Aquino – É uma condição sinótica muito, muito diferenciada do que nós vimos no passado. Primeiro, estamos ainda em uma quarta onda de calor, uma região de bloqueio atmosférico, ar quente e seco, na região Central e Sudeste do Brasil. Esse bloqueio atmosférico gera valores de temperaturas elevadas para essa época do ano – acima de 7ºC e 10ºC pelo menos – em várias regiões por ela atingida. Esse mesmo bloqueio impede a passagem de sistemas frontais – frentes frias – e também aprisiona os ciclones extratropicais ao Sul do Rio Grande do Sul e a Sudeste do nosso Estado. Paralelamente, esse bloqueio, favorece a intensificação e a manutenção por dias do transporte de umidade da Amazônia, guiado pelos Andes até o Rio Grande do Sul. Então, a combinação de ciclones extratropicais entre a Antártica e o Rio Grande do Sul e o calor com bloqueio atmosférico da onda de calor do Brasil central criou o ambiente atmosférico extremo Trópico-Polo responsável por esse desastre que observamos na última semana. Os Complexos Convectivos de Mesoescala, que são os maiores e mais duradouros sobre o Rio Grande do Sul ou sobre o Sul do Brasil se olharmos toda a América do Sul, ganharam a condição extrema graças às mudanças do clima e o El Niño para gerar esse fenômeno que estamos presenciando.

IHU – Em setembro e novembro de 2023 houve grandes enchentes no RS. Agora, em maio de 2024, menos de seis meses depois, estamos diante de outra situação extrema. O que explica a recorrência desses eventos em intervalos tão curtos?

Francisco Eliseu Aquino – A amplificação das mudanças climáticas, que intensifica os eventos e a sua própria recorrência, o El Niño contribui e ainda é preciso adicionar a essa interpretação que o ano de 2024 já é o mais quente comparativamente ao mesmo período de 2023. Portanto, já iniciamos um ano excepcionalmente quente, com os oceanos anomalamente quentes, mas um El Niño em arrefecimento. Então, a saída do El Niño ainda gera seus sinais e efeitos na atmosfera, porém, a mudança do clima se soma, amplificando – ou dando uma ênfase maior – aos fenômenos meteorológicos aqui vividos na última semana.