Uma coisa é um país, outra uma cicatriz

Uma coisa é um país, outra uma cicatriz

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Tudo está como está, não só por ação conjunta de um Congresso Nacional emporcalhado, uma imprensa fajuta e um judiciário omisso.

Está, porque o povo permitiu e se permitiu, merece o ‘novo’ estado de coisas.

Celebremos o poder paralelo que sustenta um Estado de crime organizado em todos os poderes, não com armas, mas com decretos e leis e medidas provisórias e emendas constitucionais.

Quem primeiro provará do bolo da festa é o povo, que aplaude a dominação por força da fuleiragem na política.

Temos que ver o povo, como descreveu o escritor Affonso Romano de Sant’Anna na década de 70:

Povo
também são os falsários
e não apenas os operários,

povo
também são os sifilíticos
não só atletas e políticos,

povo
são as bichas, putas e artistas
e não só os escoteiros
e heróis de falsas lutas,
são as costureiras e dondocas
e os carcereiros
e os que estão nos eitos e docas.

Assim como uma religião não se faz só de missas
na matriz,
mas de mártires e esmolas, muito sangue e cicatriz,
a escravidão
para resgatar os ferros de seus ombros
requer
poetas negros que refaçam seus palmares e
quilombos.

Um país não pode ser só a soma
de censuras redondas e quilômetros
quadrados de aventura, e o povo
não é nada novo
– é um ovo
que ora gera e degenera
que pode ser coisa viva
– ou ave torta, depende de quem o põe
– ou quem o gala.

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