Uma história real contada pelo New York Times

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MOEDAS NA FONTE

Roma, Itália ̶̶̶ A Fontana di Trevi foi erguida no centro dessa cidade há mais de 200 anos. Durante quase todo esse tempo, os visitantes jogaram moedas em suas águas, esperando que seus desejos se realizassem.

Mas, o que aconteceu a todas as moedas lançadas na fonte? Parece que muitas delas foram parar nos bolsos de Roberto Cercelletta.
Todos os dias, no escuro da noite, ele esvaziava o tesouro da fonte, recolhendo as moedas com um ancinho ou imã. A ação durava uns 15 minutos, e ele conseguia aproximadamente uns mil dólares. A polícia deu pouca atenção ao assunto durante muitos anos, até que um jornal italiano escreveu sobre ele.

Pouco tempo depois, em uma manhã que ele dava sua habitual caminhada na água, policiais viram e prenderam-no. Mais de três horas depois, com seus tênis pretos ainda encharcados, ele esperava em uma delegacia de polícia próxima para ser transferido para a prisão.

“Na verdade, eu não recolhia tanto assim”, disse o sr. Cercelletta, um morador de rua com problemas mentais. Ele também alegou que dividia o dinheiro com outros necessitados e pessoas com problemas; que se ele não estivesse pilhando a Fontana di Trevi, outra pessoa estaria fazendo; e que sua prisão ignorou mais de três décadas de tradição.

“Eu não tenho direito”, disse ele, “mas venho fazendo isso há 34 anos.”
Os policiais que tomaram seu depoimento ou passaram por lá tiveram de sorrir. “Ele é antológico”, disse um deles, explicando que a proeza do seu Cercelletta era conhecida por todos há muitos anos.

Na verdade, os policiais nunca soubera, o que fazer dele ou o que fazer com ele. Durante muito tempo não estava claro que estivesse desacatando alguma lei.
As moedas jogadas na fonte não eram propriedade de ninguém, portanto o sr. Cercelletta não era culpado por roubo.

Mas, tradicionalmente, as moedas eram enviadas para instituições de caridade italianas, o que significa que o sr. Cercelletta as privou de dezenas de milhares de dólares a cada ano.
A única lei que o sr. Cercelletta estava de fato violando não existia até 1999, quandos e tornou ilegal caminhar e tomar banho em fontes públicas, como a di Trevi.

Assim, durante muitos anos, de tempos em tempos, a polícia multava o sr. Cercelletta por entrar nas fonte, mas não por pegar moedas. Ele ignorou aas multas, e eles não podiam levá-lo a juízo porque não tinha casa, portanto, não tinham como encontra-lo. Como ele também parecia não guardar muito dinheiro, não tinha recursos para pagar as multas.

A polícia diz que não se esforçou para processá-lo porque, durante muito tempo, ninguém tinha se dado conta do volume de dinheiro que ele estava pegando. Por sua vez, sr. Cercelletta disse que sabia que a fonte era uma fábrica de dinheiro desde a primeira vez que a viu, 30 anos antes, e que algumas vezes teve que espantar alguns do seu território.

Ele também precisou criar um esquema. As moedas submersas são de vários países, então ele tinha, de as levar ao banco para trocá-las pela moeda oficial italiana, para que pudesse gastar o dinheiro.

Sua vida ficou muito mais complicada quando toda a Europa adotou o euro. Antes, disse ele, a maioria das moedas grudava com facilidade no imã, mas o euro não; então, ele precisava mergulhar na fonte para pegá-las e assim acabava desrespeitando a lei com mais frequência.
Turistas que visitavam a fonte no dia em que ele foi preso expressaram uma gama de sentimentos quando souberam onde suas moedas acabaram no passado.

Delores Burgos, nascida na cidade de Nova York, que agora mora no Oriente Médio, disse que o que o sr. Cercelletta andou fazendo era “esperto, mas de certo modo mau”.
Seus filhos fizeram desejos, acrescentou ela: “Ele estaria roubando os desejos dos meus filhos.”

Seu marido, Jeff Burgos, tomou uma linha de pensamento mais dócil. “Eram só 27 centavos.”

Frank Bruni

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